1979 7 de dezembro
Economia incorpora 'palavrão' à crise
Maxidesvalorização e aumento de tarifas públicas alimentam inflação
O cruzeiro (moeda da época) é desvalorizado em 30% em relação ao dólar de uma só vez, interrompendo o sistema de pequenas desvalorizações mensais que vigorou por mais de dez anos. A maxidesvalorização foi a última de uma série de medidas adotadas no segundo semestre pelo ministro da Fazenda, Delfim Netto, que substituíra Mário Henrique Simonsen em agosto. Simonsen defendia a retração econômica para conter a inflação.
Delfim adotou medidas de expansão da economia – como havia feito no período do “milagre brasileiro”, do general Emílio Garrastazu Médici. Em outubro, numa tentativa de conter a onda de greves no país, o governo anunciou uma nova política salarial. Os reajustes que eram anuais passariam a ser semestrais e diferenciados por faixa salarial: maiores para quem recebia até três salários mínimos e menores para quem recebia acima de dez. Ao mesmo tempo, houve forte aumento nos preços públicos: 50% para diesel, gasolina e querosene em agosto; e, em novembro, mais 58% para a gasolina, 38% para o diesel e 55% para as tarifas de energia elétrica.
A maxidesvalorização foi anunciada junto a um pacote de medidas para fortalecer a arrecadação do governo, reduzir o déficit comercial e tentar atrair capitais externos. Naquele momento, a economia mundial caminhava para a recessão, forçada pelo segundo choque do petróleo e pela alta dos juros nos Estados Unidos. A expansão pretendida pelo ministro da Fazenda ficou circunscrita ao setor agrícola, favorecido por preços fixados pelo governo (e que aumentaram a inflação) e por um programa de financiamento e seguro de safra. O slogan dessa política, concebida por Delfim quando ainda estava no Ministério da Agricultura, era: “Plante que o João garante”.
Com a nova conjuntura mundial e a mudança brusca de orientação na política econômica, a inflação saltou para 77% em 1979 – chegaria a 110% em 1980, 120% em 1981 e 211% em 1983. As taxas de crescimento do PIB, que haviam sido de 6,8% em 1979 e 8,25% em 1980, despencariam nos anos seguintes, com números negativos ou próximos a zero: -4,5% em 1981, 0,5% em 1982 e -3,5% em 1983. Pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial, o Brasil atravessaria um prolongado período de recessão.