1981 6 de fevereiro
DOI mantém Casa da Morte em Petropólis
Ex-presa revela existência de centro clandestino de tortura e assassinato
A revista "IstoÉ" circula com a reportagem “A Casa dos Horrores”, que revela que o Centro de Informações do Exército (CIE) e o DOI-Codi mantiveram em Petrópolis (RJ) uma casa secreta, onde foram torturadas e assassinadas pelo menos 22 pessoas dadas como “desaparecidas”. A denúncia é sustentada por Inês Etienne Romeu, a única sobrevivente da casa, na qual esteve encarcerada por três meses, em 1971. Dez anos depois, ela ajuda a revista a localizar o tenente-médico Amílcar Lobo, que admitiu ter participado das sessões de tortura e confirmou a morte de presos. Lobo, psiquiatra que usava o codinome “Dr. Cordeiro”, examinava os presos para determinar se eles tinham condições físicas para suportar novas torturas.
Anos mais tarde, outros ex-agentes da repressão dariam mais informações sobre o local. A Casa da Morte foi criada para eliminar opositores do regime a partir de uma determinação do general Orlando Geisel, ministro do Exército do general presidente Garrastazu Médici e irmão de seu sucessor, Ernesto Geisel. A ordem era matar os últimos dirigentes de organizações como Ação Libertadora Nacional (ALN), Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Também deveriam ser eliminados os militantes banidos e exilados que retornassem ao Brasil, o que atingiu também o PCB. A Casa da Morte de Petrópolis funcionou nos governos Médici e Geisel. Em São Paulo, um sítio foi utilizado pelo DOI-Codi com os mesmos objetivos.
A revelação da existência desses centros clandestinos de tortura e morte só foi possível graças à coragem e à persistência de Inês Etienne. Ela fez uma minuciosa reconstituição dos três meses que passou encarcerada, reunindo evidências para identificar 20 torturadores e 16 presos. A lista de vítimas cresceria nos anos seguintes. Em 2009, Inês recebeu o Prêmio Direitos Humanos do governo brasileiro.
Os mortos da casa de Petrópolis (*):
VPR: Aluisio Palhano, Ivan Mota Dias, Heleny Guariba, Maurício Guilherme da Silveira, José Raimundo Costa, Celso Gilberto de Oliveira, Gerson Theodoro de Oliveira e Walter Ribeiro Novaes.
ALN: Paulo de Tarso Celestino, Issami Okano, Ana Kucinski, Wilson Silva e Thomaz Antônio Meireles Neto.
VAR-Palmares: Carlos Alberto Soares de Freitas, Mariano Joaquim da Silva e Antônio Joaquim de Souza Machado.
PCB: David Capistrano, José Roman e Walter de Souza Ribeiro.
MR-8: Marilena Villas-Boas.
MRT: Victor Luiz Papandreu.
(*) O ex-deputado Rubens Paiva, que constava da lista original de Inês Etienne, foi morto no quartel da Polícia do Exército na Tijuca – sede do DOI-Codi no Rio –, conforme apuração da Comissão Nacional da Verdade, em 2013.