1982 14 de junho
Ditadura argentina perde nas Malvinas
Desmoralizado, regime militar começa a cair após derrota para o Reino Unido
A Argentina é forçada a se render incondicionalmente na guerra travada com o Reino Unido pela posse das Ilhas Malvinas. O confronto iniciado no dia 2 de abril termina 73 dias depois, com as mortes de 649 militares argentinos, 255 soldados britânicos e três civis. A derrota selou também, na prática, o fim da ditadura argentina, que invadira o arquipélago para fazer frente a uma crescente impopularidade, decorrente de uma grave deterioração da economia e da violação sistemática de direitos humanos.
A Junta Militar argentina esperava com a operação mobilizar o sentimento patriótico dos argentinos para se manter no poder. As ilhas, ocupadas pelo Reino Unido e chamadas de Falklands pelos britânicos, eram reivindicadas pela Argentina como parte de seu território desde 1833.
A operação militar foi secreta e detalhadamente planejada. No dia da invasão, as Forças Armadas argentinas despejaram homens, navios e armas – transportadas secretamente da África do Sul, Israel e Líbia – para as ilhas, prenderam poucos milhares de habitantes, cidadãos britânicos, em campos de concentração e obrigaram a rendição do governador. Ao longo dos pouco mais de três meses de conflito, a Argentina havia mobilizado 12 mil soldados e 40 navios, contra 28 mil soldados e 100 navios muito bem armados do Reino Unido.
A invasão propiciou um curto período de popularidade ao governo militar argentino, que se esvaiu após a reação britânica. A crueldade da ditadura se estendeu até os campos de guerra. Nos anos seguintes, seriam recolhidos relatos de um sofrimento indizível dos jovens soldados argentinos: fome, frio e, principalmente, torturas e maus-tratos infringidos por seus próprios oficiais. Nos anos que se sucederam ao conflito, houve registros de pelo menos 400 suicídios de ex-combatentes.
No Reino Unido, o conflito salvou o governo de Margareth Thatcher. Antes da invasão das Malvinas, a derrota da primeira-ministra nas eleições daquele ano era considerada como certa, devido às medidas neoliberais impopulares tomadas pelo seu governo. Com a vitória militar, conseguiu recuperar popularidade e manter-se no cargo.
Na Argentina, o general presidente durante a guerra, Leopoldo Galtieri, teve que renunciar três meses após a derrota. Vieram ainda dois presidentes militares, Alfredo Oscar Saint-Jean e Reynaldo Bignone, que um ano e meio depois entregaria o poder ao presidente civil Raul Alfonsín, que conduziu a transição democrática.