1995 Janeiro

Crise do México traz impactos ao Brasil

Para conter a fuga de capitais, governo brasileiro leva juros às alturas

A crise econômica do México estoura no final de dezembro de 1994 e agrava-se em janeiro de 1995, afetando outros países da América Latina, inclusive o Brasil, onde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso estava se iniciando. O México havia adotado as reformas neoliberais preconizadas pelo chamado Consenso de Washington e sua economia, até então, era apontada como uma referência pelo sistema financeiro internacional.

A crise teve motivações políticas, como a sucessão presidencial, o assassinato do candidato Luis Colosio e o crescimento das forças zapatistas, mas deveu-se principalmente a fortes desequilíbrios econômicos: déficit na balança de pagamentos, especulação financeira e fuga de capitais.

O atrelamento do peso ao dólar pelo governo Salinas estimulou as importações, produzindo um déficit brutal na balança de pagamentos e a quebra de boa parte da indústria mexicana. Dependendo cada vez mais dos capitais externos e voláteis, o governo mexicano passou a emitir títulos públicos atrelados ao dólar, o que comprometeu gravemente as reservas cambiais.

Logo que tomou posse, o presidente Ernesto Zedillo alargou a banda de variação do peso, mas a situação só se agravou. O mercado reagiu com um violento ataque especulativo, que fez a moeda local flutuar e perder metade de seu valor. Os Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional (FMI) socorreram o México com um empréstimo de US$ 50 bilhões.

Por seu efeito contaminador, a crise mexicana ficou conhecida como Efeito Tequila. Produziu uma desvalorização generalizada dos títulos de países emergentes, especialmente dos latino-americanos. A Argentina precisou de um empréstimo do FMI, e o Brasil elevou os juros a estratosféricos 38,7% no ano para atrair e manter os capitais voláteis. Naquele momento, o país vivia uma situação semelhante àquela que já havia naufragado no México, com a instituição da âncora cambial que equiparava o real ao dólar.