1982 18 de novembro
Brizola desmonta fraude eletrônica
Caso Proconsult: empresa manipulava totalização de votos na eleição do Rio
Vencedor das eleições para governador do Rio de acordo com pesquisas de boca de urna, o candidato do PDT, Leonel Brizola, convoca a imprensa internacional para denunciar manobras nas apurações oficiais. “Só a fraude ameaça nossa vitória”, afirmou. A tentativa de burlar o resultado das urnas seria confirmada uma semana depois, mas a entrevista de Brizola conseguiu impedir que fosse consumada.
Três dias depois do pleito, os dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e da TV Globo davam o candidato do PDS, Moreira Franco, à frente. O candidato do PMDB, Miro Teixeira, aparecia em segundo, e Brizola, em terceiro. Era uma contagem defasada e distorcida, que omitia a votação expressiva do pedetista na capital e na região metropolitana do Rio.
A apuração paralela da Rádio Jornal do Brasil, que recolhia dados diretamente nas zonas eleitorais, projetava vitória de Brizola com 180 mil votos de vantagem. O resultado era semelhante às projeções do PDT e do PMDB. Naquele mesmo dia, Miro Teixeira reconheceu a derrota e apontou Brizola como vencedor.
A lentidão na contagem oficial de votos encobria o desvio de votos nos computadores da Proconsult, empresa contratada pelo TRE para totalizar as urnas no Estado. A tentativa de fraude seria denunciada pelo “Jornal do Brasil” na edição de 27 de novembro. A empresa estava transferindo votos brancos e nulos para o candidato oficial. Após a denúncia, a Justiça Eleitoral suspendeu o trabalho da Proconsult e reiniciou a contagem de votos, confirmando a vitória do PDT por 180 mil votos. A imprensa descobriu que pelo menos um dos sócios da empresa tinha ligações com o Serviço Nacional de Informações (SNI).
A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a denúncia, que não chegaria a nenhuma conclusão. De todos os líderes que voltaram ao país com a Lei da Anistia, Leonel Brizola era o mais temido pelos militares e civis que apoiaram o golpe de 1964. Quando sua eleição para governador do Rio foi confirmada, o general Euclydes Figueiredo, comandante militar da Amazônia e irmão do general presidente João Baptista Figueiredo, declarou aos jornais: "Este é um sapo que se engole, digere e, na hora certa, se expele".