1988 15 de novembro
A esquerda avança na eleição municipal
Partidos governistas perdem força na esteira dos fracassos na economia
Na primeira eleição posterior à redemocratização em que todos os municípios elegeram conjuntamente seus prefeitos, os partidos governistas (PMDB e PFL) mantêm o maior número de prefeituras, mas perdem força nos grandes centros urbanos para o PT, o PDT e o PSB, apoiados por outros partidos de esquerda, como o PCB e o PCdoB.
O ano de 1988 estava sendo marcado por numerosas greves, em decorrência da grande insatisfação com a inflação, a perda do poder aquisitivo e o arrocho salarial. Na semana do pleito, havia no país aproximadamente 1 milhão de trabalhadores parados. Dias antes das eleições, tropas do Exército tinham invadido a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda (RJ), para desalojar grevistas. Três operários foram mortos e nove ficaram gravemente feridos.
O reflexo eleitoral desse quadro social foi o enfraquecimento dos partidos hegemônicos na transição em favor das legendas progressistas de oposição. O PMDB chegou a perder 2/3 do eleitorado que conquistara na eleição geral de 1986, da qual havia saído amplamente vitorioso. Mesmo assim, o partido manteve o maior número de prefeituras, seguido do PFL. Nas capitais, o PFL venceu em cinco, o PMDB e o PDT em quatro, o PT, o PSB e o PTB em três, o PDS em duas e o nascente PSDB em uma.
Nessa dispersão de forças, entretanto, a vitória dos partidos de esquerda foi mais expressiva em função da conquista de cidades como São Paulo e Porto Alegre por candidatos do PT e do Rio e Curitiba por pedetistas. A eleição de Luiza Erundina para a Prefeitura de São Paulo teve duplo significado: o Partido dos Trabalhadores obteve sua maior vitória eleitoral até então e Erundina tornou-se a primeira mulher eleita para governar a maior cidade do país.
Três dias antes da votação, a candidata dividia o segundo lugar com o peemedebista João Oswaldo Leiva, enquanto Paulo Maluf (PDS) aparecia nas pesquisas na primeira colocação, com 28% dos votos. Ela venceu a disputa na reta final da campanha, beneficiada pela indignação dos setores progressistas da sociedade com a violenta invasão da CSN. Prometeu governar para os mais pobres, com ênfase em políticas sociais, e reduzir a tarifa dos transportes públicos.
Outros prefeitos eleitos naquele ano e que ganharam projeção nacional foram Olívio Dutra (PT, em Porto Alegre), Jaime Lerner (PDT, em Curitiba), Arthur Virgílio (PSB, em Manaus) e Pimenta da Veiga (PSDB, em Belo Horizonte).