Gays
A luta dos homossexuais por seus direitos é, ao mesmo tempo, uma defesa do amor. Porém, a moral conservadora, defendida e empregada pela ditadura militar compreendia a relação homoafetiva como uma subversão dos sempre-ditos bons-costumes. A banda pernambucana Ave Sangria e os paulistas do Premeditando o Breque mantiveram a tradição de resistência teimosa à ditadura militar, inserindo a temática homossexual nas canções Seu Waldir e Rubens. Já nos fins da década de 1970, em meio à efervescência dos movimentos sociais que aqueceram o cenário político nacional e começavam a transbordar os limites da ditadura, gays e lésbicas passaram a engrossar o caldo da luta por direitos, agrupando-se em coletivos como o Somos: Grupo de Afirmação Homossexual, e o Grupo de Ação Lésbica-Feminina (GALF].
Seu Waldir
Rubens
Mulheres
No Brasil, a luta das mulheres em torno de seus direitos é histórica; e no fim da década de 1970 voltou com força à pauta política do País. Surgiram nas principais cidades do país organizações de mulheres, jornais temáticos foram criados e congressos realizados. Logo, trabalhadoras formaram grupos de discussão e ação nos sindicatos. A maioria dessas iniciativas, além de somar forças à luta geral pela democracia, também se dedicava a combater as discriminações e elaborar pautas de reivindicações específicas. Uma canção em especial embalou essa luta. Em 1978, Milton gravou Maria, Maria no álbum Clube da Esquina 2. A composição celebra a determinação das mulheres: acostumadas a enfrentar todo tipo de preconceitos, elas terminam por extrair das adversidades a força para vencer desafios. Nos anos seguintes, a canção se converteria num hino dos movimentos de mulheres, que começaram a ganhar corpo em meio às outras reinvindicações sociais.
Maria, Maria
Negros
Faz parte de nossa tradição política a luta por direitos e atos políticos de afirmação identitária. Nessa vertente, o compositor brasileiro sempre inseriu tais questionamentos sociais em suas canções: desde Edu Lobo, que compôs a trilha do espetáculo Arena conta Zumbi (1964], onde a luta dos negros contra a escravidão seria uma inspiração na luta contra a ditadura militar; Simonal homenageou um dos maiores líderes da luta por igualdade racial em Tributo a Martin Luther (1966] – um dos poucos que o fizeram enquanto o pastor ainda estava vivo –; Jorge Ben reverenciou o boxeador negro Cassius Clay – que passou a se chamar Muhammad Ali ao se converter ao islamismo – em seu disco Negro é Lindo (1971]. O Black Power e outras ações afirmativas e de valorização da cultura negra energizaram a pauta por direitos democráticos no Brasil nos fins da década de 1970. Os blocos afro baianos Ilê Aiyê (1975] e Olodum (1979] destacaram-se como dos mais atuantes grupos de valorização das raízes africanas da cultura brasileira. Combatendo a discriminação racial, arrastaram multidões às ruas colocando em evidência denúncias e lutando contra o racismo arraigado na cultura brasileira.
Mandamentos black
Índios
Nos últimos anos da década de 1970, povos indígenas de diversas nações, muitas vezes lançando mão de mecanismos próprios da sociedade dos brancos, passaram a organizar associações para defender seus interesses e fundamentar e garantir seus direitos. Este novo índio que luta contra os abusos do Estado e resiste politicamente também figurou na nossa canção popular: Vevé Calasans homenageou Mário Juruna, primeiro índio eleito deputado federal (PDT-RJ] – e que sempre ostentanva seu cocar sobre seu traje protocolar de terno e gravata –, em Depuíndio; e enquanto Jorge Ben denunciava os atropelos do Governo contra os indígenas em Curumim chama cunhatã que eu vou contar, os paulistas do Língua de Trapo especulavam tragicamente sobre o efeito avassalador da invasão econômica e cultural branca, naquele momento, sobre os índios em Xingu Disco. As canções convergem para um mesmo fim: a exigência da demarcação de terras e políticas públicas de preservação das tradições indígenas.
Todo dia era dia de índio
Depuíndio
Xingu Disco
Meio Ambiente
Diante do projeto desenvolvimentista praticado pela ditadura militar, às custas de danos (muitas vezes irreversíveis] à natureza, uma reação política se fazia rapidamente necessária. Com o aprofundamento da luta pela democracia no país, a bandeira da defesa do nosso patrimônio ambiental foi levantada, entrando de vez na agenda política nacional. A necessidade de se preservar o meio-ambiente também figurou na canção brasileira. Em Saga da Amazônia, o violeiro faz um apelo emocionado e dramático: “a mais bonita floresta” estava gravemente ameaçada. O compositor não estava mentindo: além da extração predatória da madeira e recursos naturais da mata, a construção da Transamazônica fez um corte fundo na selva, deixando uma verdadeira cicatriz no coração da Amazônia.
Saga da Amazônia