Carregando...

Resistência cultural Literatura

A construção de narrativas que articulam aspectos políticos e pessoais dos personagens talvez tenha sido a principal característica da literatura no pós-1964. Quando o jornal não podia mais noticiar e informar, cresceu o apreço pelo testemunho, a documentação e a exposição da realidade brasileira, levando a literatura a sair dos padrões habituais e a assimilar novos recursos, pactuando com outras artes e meios de expressão.

Resistência cultural / Literatura Antônio Callado

Antônio Callado foi um dos grandes romancistas políticos do país, destacando-se em 1967 com a publicação de “Quarup”, talvez o livro mais importante da década. O autor abordaria anos depois a opção radical pela luta armada e a fragilidade desse caminho político em livros como “Bar Don Juan” e “Reflexos do Baile”. No último romance da série, “Sempreviva”, Callado trata da volta de um guerrilheiro depois de anos de exílio.

Veja trecho do vídeo “Kaurup”

Resistência cultural / Literatura érico Veríssimo

Em 1971, o romancista Érico Veríssimo publicou “Incidente em Antares”, uma genial alegoria do Brasil mergulhado na ditadura militar. A opção pelo relato ficcional voltado para a história e a crítica feroz a toda forma de tirania já haviam aparecido em dois outros romances publicados pelo autor durante a ditadura: “O Prisioneiro” (1965] e “O Senhor Embaixador” (1967].

Veja trecho da minissérie “Incidente em Antares”

Resistência cultural / Literatura Adelaide Carraro E Cassandra Rios

Durante a ditadura, Adelaide Carraro e Cassandra Rios foram perseguidas pela censura devido ao forte conteúdo erótico de suas obras. Boa parte de seus livros circulava clandestinamente. Cassandra Rios, por exemplo, tratava de lesbianismo, sexo, religião, política e de ritos umbandistas. Chegou a vender 300 mil exemplares por ano. Em 1976, 33 de seus 36 livros publicados estavam proibidos.

Resistência cultural / Literatura Wally Salomão E Torquato Neto

Wally Salomão optou pelo romance político ao lançar, em 1972, Me segura qu’eu vou dar um troço, livro construído através da estética do fragmento, próximo das experiências da contracultura. Em 1973, Wally organizou Os últimos dias de Paupéria, de Torquato Neto, edição de poemas, cartas, diários e textos jornalísticos do mais importante autor do Tropicalismo.

Veja trecho do vídeo “Nosferato no Brasil”

Resistência cultural / Literatura Renato tapajós

Renato Tapajós foi preso em 1977 por conta de seu livro “Em Câmara Lenta”. O romance faz parte da literatura de inventário sobre a ditadura militar escrita por integrantes da esquerda, na qual se destacam obras como “O Que É Isso, Companheiro?” (Fernando Gabeira, 1978], “Os Carbonários: Memórias da Guerrilha Perdida” (Alfredo Sirkis, 1980] e “Tirando o Capuz” (Álvaro Caldas, 1981].

Resistência cultural / Literatura Pessach A Travessia

Lançado em 1967, “Pessach: A Travessia”, de Carlos Heitor Cony, tem uma cena final premonitória dos tempos que estavam por vir: o personagem principal enterra sua metralhadora, em vez de se livrar dela, à espera do momento em que os guerrilheiros irromperiam vitoriosos no horizonte do país.

Resistência cultural / Literatura Prisão De ênio Silveira

Em 1965, Ênio Silveira, o mais importante editor do país e proprietário da Civilização Brasileira, editora responsável pela publicação de diversos autores de oposição, foi preso por organizar uma feijoada em homenagem ao ex-governador cassado de Pernambuco, Miguel Arraes. Sua prisão provocou protestos e um manifesto de repúdio com mais de mil assinaturas, de militantes de esquerda ao compositor Pixiguinha. [Crédito das imagens]: Documento manuscrito do presidente Castello Branco ao chefe do Gabinete Militar, general Ernesto Geisel.

Resistência cultural / Literatura Zero

O timbre da década de 1970 revelou-se nas contribuições de linha experimental e renovadora. Surgiu o romance de temática e ambientação urbana, que tratava das condições precárias e violentas da vida nas grandes cidades em linguagem direta e seca, quase jornalística. É dessa fase o romance “Zero”, de Ignácio de Loyola Brandão, que teve sua edição apreendida em 1976. A narrativa é composta por fragmentos dispersos, como se fossem pequenas notícias de jornal, que denunciam a tortura, o Esquadrão da Morte e a repressão intensa em certo país da “América Latíndia”.

Resistência cultural / Literatura A Festa

Em “A Festa”(1976], de Ivan Ângelo, a narrativa conjuga simultaneamente engajamento político, fantasia e questionamentos do oficio literário. História, jornalismo e ficção se encontram por intermédio da colagem de vários documentos - fragmentos de jornais, livros e depoimentos, numa clara mistura entre real e imaginário. A obra apresenta forte conteúdo politizado, mas, por intermédio da ambiguidade, da diversidade de sentidos e da experimentação, o romance conseguiu não apenas driblar a censura como fazer uma reflexão sobre o seu tempo.

Resistência cultural / Literatura Feliz Ano Novo

“Feliz Ano Novo”, de Rubem Fonseca, foi proibido em 1975. Mais eficaz do que a censura prévia foi a prática de apreensões e de proibições. Somente em 1965 foram apreendidos 17 mil volumes de 35 obras enquadradas na designação genérica de “subversivos”. Entre 1964 e 1985, cerca de 500 livros tiveram tiragem e circulação totalmente proibidas no país.

Resistência cultural / Literatura Lei Da censura Prévia

A Lei da Censura Prévia para livros e publicações foi instituída em 1970. Determinava que os editores enviassem os originais para Brasília antes da publicação. Na prática, revelou-se tecnicamente inexequível: só em 1971 foram lançados no mercado 9.950 novos títulos, demandando um número incalculável de censores. Crédito da imagem: Projeto República/UFMG

Resistência cultural / Literatura Poesia Marginal

Toda uma geração de poetas – Ana Cristina César, Geraldo Carneiro, Chacal, Charles, Bernardo Vilhena – decidiu mimeografar seus versos e vender a produção em portas de cinemas, bares, museus e teatros. Eram poemas curtos, próximos do registro de fatos e sentimentos cotidianos e marcados pela perplexidade e pelo bom humor. A chamada poesia marginal revelava sua face contracultural, buscando recuperar a lição do cordel, aproximar-se do público e recusar a transformação do livro em mercadoria.

Resistência cultural / Literatura Nuvem Cigana

Os poetas marginais da década de 1970 atuavam em associações formadas para a produção de coleções, eventos e revistas. O mais importante desses grupos, o Nuvem Cigana, transformou a Livraria Muro, em Ipanema, no Rio de Janeiro, em palco de um novo tipo de “happening”: as “Artimanhas”. Elas às vezes duravam dias, incluíam leitura de poemas, performances, teatro, artes plásticas e música e quase sempre acabavam em festa. Ou na delegacia.