O cinema brasileiro teve um importante papel na resistência cultural à ditadura. Antes do golpe civil-militar de 1964, a produção cinematográfica vivia um momento fecundo, iniciado em 1955 com o lançamento do filme “Rio, 40 Graus”, de Nelson Pereira dos Santos, marco do surgimento do Cinema Novo. Engajada nos intensos debates daquele momento sobre a realidade do país e a necessidade de transformações, uma geração de jovens cineastas dispôs-se a superar os problemas técnicos e de financiamento das produções, empunhando o lema “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Seu propósito era realizar filmes de apelo popular que discutissem o subdesenvolvimento e a realidade nacional numa linguagem baseada nos valores culturais brasileiros.
Os filmes da chamada “trilogia do sertão”, que viriam a seguir, sintetizam esses compromissos estéticos e políticos. São eles: “Vidas Secas”, de 1963, de Nelson Pereira dos Santos; “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de 1964, de Glauber Rocha; e “Os Fuzis”, de 1965, de Ruy Guerra. Nessa fase, destacam-se ainda outros jovens diretores como Sérgio Ricardo, Cacá Diegues, Paulo César Saraceni, Leon Hirszman, Gustavo Dahl, David Neves, Joaquim Pedro de Andrade e Luiz Carlos Barreto.
Resistência cultural / Cinema
Deus E O Diabo Na Terra Do Sol
1964 Glauber Rocha
Em “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, o diretor destaca aspectos importantes da cultura sertaneja, como sebastianismo, cangaço, misticismo e mandonismo local. Eles se fundem na saga do vaqueiro Manuel que, ao percorrer o sertão, percebe as injustiças sociais que assolam a região. Ele descobre que a revolução é uma necessidade social e que a redenção não se encontra na fé messiânica encarnada pelo personagem Sebastião.
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Cartaz do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”
Autor: Rogério Duarte
Resistência cultural / Cinema
O Desafio
1964 Paulo César Saraceni
O filme se passa nos primeiros momentos depois do golpe de 1964. O tema principal é o marasmo da classe média diante da nova realidade estabelecida. O golpe, na visão dos personagens, havia sido desferido com uma facilidade que o tornava intragável. O protagonista, Marcelo, é um jornalista de esquerda desolado que se envolve emocionalmente com Ada, mulher de um rico empresário. Saraceni propõe o desafio: resistir.
Veja um trecho do filme
O diretor Paulo César Saraceni no set de filmagem.
Crédito: Reprodução
Resistência cultural / Cinema
Terra Em Transe
1967 Glauber Rocha
Lançado em 1967, “Terra em Transe” inaugura novo momento do Cinema Novo, caracterizado pelo pessimismo político. Profundamente autocrítico, o filme não foi bem recebido por parte da esquerda nacional, que acusava Glauber Rocha de um “desvio ideológico para a direita”. Numa República fictícia, o protagonista encarna o intelectual de esquerda, cujo sacrifício revolucionário soa quase como um delírio inútil. Suas esperanças são substituídas pelo desencanto diante do golpe de Estado e da ascensão de um ditador ao poder.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “Terra em Transe”
Resistência cultural / Cinema
Opinião Pública
1966 Arnaldo Jabor
O documentário de Arnaldo Jabor analisa o conservadorismo e a ingenuidade da classe média brasileira, poucos anos após o golpe de 1964. Filmado em diferentes ambientes, como praias, boates, repúblicas de estudantes, o filme tenta mostrar como a classe média manteve-se inerte em sua própria realidade social diante do autoritarismo que se instaurava no país, indiferente às questões políticas.
Veja um trecho do filme
Jovens da classe média carioca no documentário
“A Opinião Pública”, de Arnaldo Jabor
Resistência cultural / Cinema
O Caso Dos Irmãos Naves
1967 Luiz Sérgio Person
O filme do diretor Luiz Sérgio Person relata um caso assustador da ditadura de Getúlio Vargas para revelar o que se tornara o país depois do golpe de 1964. Conta a história de dois irmãos do interior de Minas Gerais que, sob a ditadura de Getúlio, são presos sem motivo algum, torturados e obrigados a relatar fatos que nunca existiram. Foram condenados por terem cometido um crime do qual não só eram inocentes, como nunca havia acontecido.
Veja um trecho do filme
Juca de Oliveira e Raul Cortez, em “O Caso dos Irmãos Naves”,
de Luiz Sérgio Person
Resistência cultural / Cinema
El Justicero
1967 Nelson Pereira dos Santos
O filme narra a história de El Jus, um “bon vivant” debochado, em meio à realidade política do Brasil após o golpe de 1964. Cafajeste assumido pela maneira como tratava as mulheres, a vida de El Jus sofre uma reviravolta quando ele conhece um jornalista disposto a biografá-lo. Ao contar sua história, mostra uma visão crítica da realidade brasileira. “El Justicero” foi apreendido pela censura, liberado com cortes e, posteriormente, proibido em todo o território nacional.
Veja um trecho do filme
Resistência cultural / Cinema
O Bandido Da Luz Vermelha
1968 Rogério Sganzerla
“O Bandido da Luz Vermelha”, de Rogério Sganzerla, é um amálgama da violência, grosseria, corrupção e lixo que marcam a vida social brasileira. O bandido é um personagem irônico, anti-herói marginal que vive uma crise de identidade. É perseguido por assaltar casas luxuosas em São Paulo, onde vive na região periférica da Boca do Lixo – na verdade, uma alegoria do Terceiro Mundo à deriva.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “O Bandido da Luz Vermelha”
Resistência cultural / Cinema
Manhã Cinzenta
1968 Olney São Paulo
O curta-metragem “Manhã Cinzenta” rendeu ao diretor Olney São Paulo reconhecimento internacional e, no Brasil, prisão e tortura. O filme foi exibido em um avião sequestrado pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8] em outubro de 1969. Por isso, a ditadura associou Olney à esquerda armada. Na história, dois estudantes são presos por liderar uma passeata no ano de 1968. Na prisão, são interrogados por um robô eletrônico, torturados e, por fim, fuzilados. O filme foi proibido no Brasil e sobreviveu graças às cópias que Olney enviou para diversos festivais internacionais. Depois de torturado durante vários dias, o diretor foi liberado pelos órgãos de segurança, mas, devido a sérios problemas de saúde, faleceu em 1978.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “Manhã Cinzenta”, de Olney São Paulo
Resistência cultural / Cinema
Matou A Família E Foi Ao Cinema
1969 Júlio Bressane
A ação expressa no título do filme acontece nos primeiros 15 minutos, que surpreendem pela frieza do assassinato e pela naturalidade com que o filho degola os pais com uma navalha. Depois do crime, no cinema, o criminoso assiste a filmes que tematizam o cotidiano violento da sociedade brasileira. Em meio aos casos, a tortura de um preso político – retratada, entretanto, apenas como mais uma forma de violência.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “Matou a Família e Foi ao Cinema”
Resistência cultural / Cinema
O Bravo Guerreiro
1969 Gustavo Dahl
“O Bravo Guerreiro” foi lançado logo depois da instauração do Ato Institucional n° 5 (AI-5]. O protagonista da história é Miguel Horta, deputado de oposição que decide mudar de partido e se infiltrar na base de apoio para poder compreender como o governo se articula. Dessa forma, Miguel acreditava que contribuiria mais para o combate ao regime. O desfecho do filme é simbólico: o político percorre sua casa em busca de um revólver, que acaba encontrando sobre a escrivaninha, encosta-o no céu da boca e desiste de lutar.
Veja um trecho do filme
Paulo César Pereio em
“O Bravo Guerreiro”,
de Gustavo Dahl
Resistência cultural / Cinema
Brasil Ano 2000
1968 Walter Lima Jr.
No Brasil dos anos 2000 projetado pelo filme, a sociedade desenvolvida foi extinta, liquidada pela Terceira Guerra Mundial. Solução radical para o problema das desigualdades: a eliminação do substrato opressor. Na cidade chamada Me Esqueci, um general instala uma base de lançamento de foguetes prometendo o início da nova era. Observado por imigrantes disfarçados de índios, o lançamento do foguete falha e frustra os habitantes. As esperanças se esvaem. Em um contexto marcado pelo Ato Institucional n° 5 (AI-5] e o início do “milagre econômico”, Walter Lima Jr. projeta o Brasil do futuro, inviável, incapaz de lidar com velhos problemas de inclusão social.
Veja um trecho do filme
Flyer de divulgação do filme “Brasil Ano 2000”
Resistência cultural / Cinema
Macunaíma
1969 Joaquim Pedro de Andrade
Na livre adaptação para o cinema do livro homônimo de Mário de Andrade, Macunaíma é um herói preguiçoso que nasce negro, torna-se branco, vagueia pelo país e encontra policiais, guerrilheiros e prostitutas. Em suas andanças, apaixona-se pela guerrilheira Ci, interpretada por Dina Sfat. Incorporando elementos do tropicalismo e das chanchadas, a obra de Joaquim Pedro de Andrade levanta uma questão essencial: Macunaíma pode não simbolizar o povo brasileiro, mas é um brasileiro. E os brasileiros, eventualmente, podem acabar sendo devorados pelo próprio país.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade
Resistência cultural / Cinema
Prata Palomares
1970-1971 André Faria
“Prata Palomares” representa a primeira experiência cinematográfica do Teatro Oficina, fundado por José Celso Martinez Corrêa. A partir dos temas da guerrilha e da repressão política, os diálogos são carregados de reflexões e simbolismos. Em uma cidade tomada por injustiças sociais, dois revolucionários em fuga se escondem dentro de uma igreja. Um deles se passa por padre e prega ideais revolucionários durante as missas. Policiais descobrem o esconderijo e criam um centro de tortura dentro da igreja. Sua exibição foi proibida em território nacional por 13 anos, por conter “cenas que agridem princípios religiosos, a família e a sociedade”.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “Prata Palomares”
Resistência cultural / Cinema
O País De são Saruê
1971 Vladimir Carvalho
Inspirado no título de um cordel, “O País de São Saruê” expõe as dificuldades de sobrevivência na região sertaneja do Rio do Peixe, localizada no Polígono das Secas, região fronteiriça entre Paraíba, Pernambuco e Ceará. A obra narra o cotidiano de lavradores, garimpeiros e outros moradores e é uma denúncia da miséria e do longo abandono da região por parte do Estado. No momento em que a economia brasileira vivia o seu “milagre econômico”, Vladimir Carvalho chama a atenção para os esquecidos. A obra foi apreendida pela censura, proibida em todo o território nacional e somente liberada em 1979.
Veja um trecho do filme
Cartaz do documentário “O País de São Saruê”
Resistência cultural / Cinema
Os Inconfidentes
1972 Joaquim Pedro de Andrade
O filme baseia-se em distintas referências: os Autos da Devassa, os relatos dos conjurados e o livro “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meireles. Em torno da Conjuração Mineira de 1789, acumulam-se diversas metáforas sobre o contexto político ditatorial em que o filme foi produzido. Dentre as questões levantadas, o envolvimento de intelectuais na subversão, as prisões, os exílios e as delações forçadas. O cenário da Conjuração Mineira, dessa forma, é associado por Joaquim Pedro de Andrade ao da ditadura. Personagem central do filme, Tiradentes confessa sob tortura ter participado da conspiração. Diante da multidão, é enforcado a mando da Coroa portuguesa. A cena expressa a desproporção entre a força do Estado e a dos inconfidentes, num paralelo com a brutal repressão aos grupos que fizeram a luta armada contra a ditadura.
Veja um trecho do filme
José Wilker interpreta Tiradentes no filme de Joaquim Pedro de Andrade
Resistência cultural / Cinema
Zézero
1974 Ozualdo Candeias
“ZéZero” é marcado pelo conflito entre o homem e o meio em que vive. O filme aborda a vida de um agricultor pobre, seduzido pela ilusão de uma vida melhor na cidade grande. Lá, o camponês José Necas tem sua vida reduzida a trabalhar na construção civil, visitar prostitutas, escrever cartas à família e, sua esperança maior, apostar na loteria. Ao ganhar um prêmio, José Necas volta para o sertão, mas toda sua família está morta. Sozinho e sem perspectivas, imerso na violência, José Necas se pergunta: “E agora? O que eu vou fazer com todo esse dinheiro?” O autor não se deu ao trabalho de submeter seu filme à censura, exibindo-o apenas clandestinamente.
Veja um trecho do filme
O cineasta Ozualdo Candeias
crédito Reprodução
Resistência cultural / Cinema
Aleluia, Gretchen
1976 Sylvio Back
O filme aborda a difusão dos ideais nazistas no Sul do Brasil, com base na saga de uma família de imigrantes alemães entre 1930 e 1970. O diretor retrata o cotidiano em um hotel, onde circulam diversas pessoas ligadas ao nazismo. A busca pela pureza de raça, a opressão e a não aceitação de vozes divergentes são os focos do enredo. A vida familiar é afetada por um intruso que passa pela cidade e que, incapaz de aceitar os costumes da família, acaba sendo torturado.
Veja um trecho do filme
Cena do filme “Aleluia, Gretchen”,
de Sylvio Back
Resistência cultural / Cinema
A Queda
1978 Ruy Guerra e Nelson Xavier
“A Queda” é um relato das adversidades vividas pelos trabalhadores dentro das fábricas. Depois que o operário Mário morreu por falta de segurança no trabalho, sua família vai à Justiça para que a empreiteira se responsabilize pelo acidente. Mário não era registrado e, para evitar problemas maiores, representantes da empresa tentam subornar a esposa da vítima para que o caso seja silenciado. O filme mostra a politização dos trabalhadores, que se mobilizam em busca de seus direitos num momento em que a luta pela redemocratização ganhava força.
Veja um trecho do filme
Nelson Xavier atua em “A Queda”,
filme que codirigiu com Ruy Guerra
Resistência cultural / Cinema
Lúcio Flávio, O Passageiro Da Agonia
1976 Hector Babenco
O filme baseia-se na história de um famoso assaltante de bancos da cidade do Rio de Janeiro. Toca de forma direta no tema da corrupção das estruturas do Estado e do envolvimento de policiais com o Esquadrão da Morte.
Veja um trecho do filme
Reginaldo Farias e Ana Maria Magalhães em cena de
“Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia”
Resistência cultural / Cinema
República Dos Assassinos
1979 Miguel Faria Jr.
“República dos Assassinos” é uma adaptação do livro homônimo de Aguinaldo Silva, tendo como tema o Esquadrão da Morte. A existência do grupo de extermínio é fruto de articulações que envolvem grandes figurões da política nacional nos anos 1960. Matheus Romeiro – um dos chefes do grupo – se envolve em diversas situações (crime, extorsão, roubo, narcotráfico] que desmoralizam o discurso ideológico do Esquadrão da Morte.
Veja um trecho do filme
Tarcísio Meira em cena de “República dos Assassinos”
Resistência cultural / Cinema
O Homem Que Virou Suco
1980 João Batista de Andrade
O ponto de partida da história é um suposto mal-entendido. Deraldo é um paraibano, escritor de cordel, que vai para São Paulo em busca de melhores condições de vida. Na capital paulista, é confundido com Severino, também nordestino e acusado de matar a facadas seu patrão em um acesso de fúria. Sem poder comprovar sua identidade, Deraldo perambula pela cidade fugindo da polícia. Sua jornada é marcada pelo preconceito que sofre da sociedade paulistana por ser nordestino. Em “O Homem que Virou Suco”, o protagonista não aceita passivamente sua situação. Em diversos momentos extravasa sua raiva, envolvendo-se em brigas e insistindo em vender seus poemas que falam da importância do migrante nordestino para o desenvolvimento da cidade.
Veja um trecho do filme
José Dumont no papel de Deraldo
em “O Homem que Virou Suco”,
de João Batista de Andrade
Resistência cultural / Cinema
A Luta Do Povo
1980 Renato Tapajós
Em “A Luta do Povo”, o diretor aborda as diversas lutas dos movimentos populares em São Paulo entre os anos de 1978 e 1980. Sua cena inicial é o enterro do operário Santo Dias, assassinado pela polícia em um piquete de greve. A partir do protesto dos trabalhadores no enterro, o diretor registra o cotidiano de um casal de moradores da periferia que participa de diversos movimentos: luta contra a carestia, organizações de favelas e pela melhoria da saúde.
Veja um trecho do filme
Cena do documentário “A Luta do Povo”
Resistência cultural / Cinema
Eles Não Usam Black Tie
1981 Leon Hirszman
O filme narra a trajetória de uma família de operários envolvidos com o movimento grevista da fábrica em que trabalham. Otávio é comunista, veterano líder sindical que já havia sido preso pela ditadura militar em outras ocasiões. Seu filho Tião, ao contrário do pai, é extremamente individualista e descrente de qualquer tipo de aliança e solidariedade entre classes. Uma paralisação eclode no interior da fábrica: Otávio se envolve, é espancado e preso; Tião fura a greve. Leon Hirszman explora a fragmentação do núcleo familiar e os sacrifícios feitos para enfrentar uma realidade opressora.
Veja um trecho do filme
Fernanda Montenegro e Gianfrancesco Guarnieri interpretam o casal
Romana e Otávio no filme “Eles Não Usam Black Tie”
Resistência cultural / Cinema
Linha De Montagem
1981 Renato Tapajós
O documentário “Linha de Montagem”, do cineasta Renato Tapajós, foi realizado no calor do movimento operário do ABC paulista. O enredo se desenvolve entre a organização das greves e a força do líder sindical Luiz Inácio da Silva, o Lula. O lançamento do filme ocorreu na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP]. No meio da projeção, a Polícia Federal tentou apreender o filme, que não tinha certificado de exibição. Os próprios operários salvaram uma cópia.
Veja um trecho do filme
Cartaz do documentário “Linha de Montagem”, de Renato Tapajós
Resistência cultural / Cinema
Pra Frente Brasil!
1982 Roberto Farias
Financiado parcialmente pela Embrafilme, “Pra Frente Brasil”, do diretor Roberto Farias, trata da prática de tortura durante os anos de chumbo e do “milagre econômico”. O filme foi inicialmente censurado e só liberado para exibição sem cortes no início de 1983. A obra narra a história de Jofre, trabalhador de classe média e sem aspirações políticas, capturado por engano e tido como subversivo pelos órgãos de repressão. Jofre passa por inúmeras sessões de tortura, ao mesmo tempo em que a população está eufórica com a Copa do Mundo de 1970. O diretor constrói uma narrativa que contrapõe o otimismo gerado pela conquista da seleção brasileira de futebol e o uso indiscriminado da violência política.
Veja um trecho do filme
Jofre, interpretado por Reginaldo Farias, é torturado em cena de “Pra Frente Brasil”
Resistência cultural / Cinema
O Bom Burguês
1983 Oswaldo Caldeira
O filme foi inspirado na história real de Jorge Medeiros Valle, bancário preso em 1969 por desviar dinheiro do Banco do Brasil. Ele doou parte dos recursos para o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8] e para o Partido Comunista do Brasil (PCdoB]. A trama é intercalada por histórias de empresários que ajudaram a estruturar o aparelho de repressão da ditadura militar.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “O Bom Burguês”, de Oswaldo Caldeira
Resistência cultural / Cinema
Nunca Fomos Tão Felizes
1984 Murilo Salles
“Nunca Fomos Tão Felizes” é a história do drama familiar vivido pelo adolescente Gabriel, que reencontra seu pai, militante de esquerda engajado na resistência contra a ditadura, após passar oito anos em um colégio interno. Frustrado pelos acontecimentos e pela impossibilidade de uma conciliação familiar efetiva, Gabriel procura pistas sobre a verdadeira história do pai. Confinado em um apartamento pouco iluminado, o jovem lida com a solidão e o abandono. A televisão ligada mostra as propagandas ufanistas do governo enquanto seu pai geme de dor, numa dramática oposição entre duas realidades.
Veja um trecho do filme
Cartaz do filme “Nunca Fomos Tão Felizes”, de Murilo Salles
Resistência cultural / Cinema
Cabra Marcado Pra Morrer
1964-1984 Eduardo Coutinho
A proposta inicial de Eduardo Coutinho em 1964 era documentar a história de João Pedro Teixeira, líder da Liga Camponesa de Sapé (PB]. O filme teria a participação de personagens reais que conviveram com Teixeira, morto em 1962, e compartilharam sua luta pela terra. Todavia, as filmagens foram interrompidas pelo golpe militar. Os envolvidos que tiveram mais sorte se dispersaram e se esconderam. Outros foram presos, torturados e assassinados. O projeto só foi retomado em 1981, mas Coutinho mudou a proposta: além de contar a história de luta de João Teixeira, era preciso documentar o impacto da ditadura na vida dos camponeses envolvidos com a produção inicial. A nova protagonista se tornou Elizabeth Teixeira, viúva de João.
Veja um trecho do filme
Cartaz do documentário “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho
Resistência cultural / Cinema
Jango
1984 Silvio Tendler
Mais do que a vida de Jango, o documentário de Silvio Tendler é importante para compreender a política brasileira dos anos 1960. A ascensão, a queda e a morte de João Goulart foram reconstituídas por depoimentos de diversas personalidades políticas, como Leonel Brizola, Celso Furtado, Frei Betto e Afonso Arinos. Tendler consegue narrar com fluidez e emoção a trajetória do presidente deposto pelo golpe de 1964.
Veja um trecho do filme
Cartaz do documentário “Jango”, de Silvio Tendler
Resistência cultural / Cinema
Em Nome Da Segurança Nacional
1984 Renato Tapajós
O documentário de Renato Tapajós é um registro importante do Tribunal de Tiradentes, organizado em 1983 para “julgar” a Lei de Segurança Nacional (LSN]. Embora suas decisões não tivessem valor jurídico, o tribunal desempenhou papel marcante ao denunciar as perseguições políticas movidas com base na LSN. Criada em 1967, ela responsabilizava os cidadãos pela segurança do país e deu base jurídica para a criação das estruturas do sistema de repressão. Tapajós reconstitui a origem, a ideologia e a aplicação da LSN, principalmente por meio de imagens de arquivo e depoimentos de estudantes, sindicalistas e presos políticos enquadrados pela lei. Proibido pela censura, o filme foi liberado com cortes apenas em 1985.
Veja um trecho do filme
Cartaz do documentário “Em Nome da Segurança Nacional”, de Renato Tapajós