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Resistência cultural Artes Plásticas

Ultrapassada a retração inicial provocada pelo golpe de 1964, artistas de vanguarda assimilaram novas correntes internacionais, como a pop art e o novo realismo francês, buscando refletir as manifestações populares brasileiras e o contexto político do país. Desse amálgama surgiu uma arte esteticamente e politicamente vanguardista, intensa, corajosa, escandalosa, desesperada, transgressora e comprometida. Alguns de seus expoentes notabilizaram-se por criações que se tornaram símbolos dessa fase de resistência, como os que integram a lista a seguir.

Resistência cultural / Artes Plásticas Hélio Oiticica

Seja marginal, seja herói

Filho de José Oiticica Filho, um premiado fotógrafo, Hélio Oiticica (1937 – 1980] teve contato com as artes ainda na infância. Sua trajetória foi delineada por proposições de vanguarda. Entre suas principais criações estão os parangolés, fruto de sua convivência com moradores do morro carioca da Mangueira, e a instalação “Tropicália”.

Bandeira-poema, 1968

Resistência cultural / Artes Plásticas Lygia Clark

Ovo-Mortalha

Lygia Clark (1920 – 1988] foi uma das principais referências da arte brasileira do século 20. Com obras de caráter experimental, expôs nas principais galerias dos Estados Unidos e Europa e integrou sucessivas bienais internacionais. Entre 1970 e 1976, residiu na França, lecionando na Sorbonne durante o período.

Arquitetura Biológica: Ovo Mortalha, 1968

Resistência cultural / Artes Plásticas Lygia Pape

Língua Apunhalada

Atuante em importantes movimentos, como o Concreto, o Neoconcreto e a Tropicália, Lygia Pape (1923 – 2004] foi uma importante pesquisadora, produzindo obras experimentais, inclusive com insetos. Foi também cineasta e atuou no design, produzindo cartazes de filmes e embalagens, como os dos biscoitos Piraquê.

Poemas Visuais, 1968

Resistência cultural / Artes Plásticas Rubens Gerchman

Os Desaparecidos

Ainda jovem, Rubens Gerchman (1942 – 2008] foi funcionário da revista “Manchete”. Essa experiência influenciou parte de sua produção artística: suas obras possuem temas populares, baseadas em notícias de jornais. Seu engajamento político se mostra neste e em outros trabalhos, como as esculturas “Lute” e “SOS”.

Tinta industrial sobre tela, 1965

Resistência cultural / Artes Plásticas Carlos Zílio

Lute

Carlos Zílio (1944] se afastou dos ensinamentos pictóricos de sua formação, produzindo obras conceituais, críticas ao governo. Engajado no movimento estudantil, ficou preso entre 1970 e 1972. A partir da década de 1980, dedicou-se a coordenar e criar cursos acadêmicos de reflexão artística.

serigrafia, alumínio, plástico, resina plástica, 18x10,5x6cm, múltiplo, 8 exemplares, 1967

Resistência cultural / Artes Plásticas Antônio Manuel

Repressão Outra Vez: Eis o Saldo

O português Antônio Manuel (1947] chegou ainda criança ao Brasil. Artista experimental, buscou novos suportes para sua arte – notadamente crítica e reflexiva acerca do contexto político brasileiro –, como jornais e até mesmo seu corpo nu, em 1970. Atua também como cineasta.

Tecido, corda e serigrafia sobre madeira, 1968

Resistência cultural / Artes Plásticas Jorge Barrão

Sem título (óleo sobre televisão]

Artista autodidata e de grande versatilidade, Jorge Barrão (1959] transita entre desenho, escultura, pintura, cenografia e multimídia. Uma característica de suas obras ligadas às artes plásticas é utilizar eletrodomésticos e sucatas como materiais, dando novos significados a esses objetos.

Resistência cultural / Artes Plásticas Antônio Dias

Faça Você Mesmo: Território Liberdade

Antônio Dias (1944] teve lições elementares de desenho com o avô anos antes de cursar a Escola Nacional de Belas Artes. Experimentando a estética pop, misturando pintura e escultura, produziu obras políticas nas quais a morte aparecia figurada constantemente.

Instalação, (1968]

Resistência cultural / Artes Plásticas Wesley Duke Lee

O Último Voo da Liberdade

Wesley Duke Lee (1931 – 2010] foi desenhista, gravador, artista gráfico, professor e um dos primeiros artistas brasileiros a incorporar temas e linguagem pop no país. Em 1963, juntamente com outros artistas plásticos, criou o movimento Realismo Mágico.

Têmpera sobre papel colado em duratex, (1964]

Resistência cultural / Artes Plásticas Roberto Magalhães

General com Braço de Serpente

Roberto Magalhães (1940] foi pintor, desenhista e gravador. Construiu um caminho individual, nunca se atrelando a grupos ou movimentos. A alternância entre diferentes técnicas e um repertório temático próprio não permitem enquadrá-lo em tendências ou escolas artísticas.

Resistência cultural / Artes Plásticas Carlos Vergara

Berço Esplêndido

Carlos Vergara (1941] atua como gravador, fotógrafo e pintor. Em 1963, começou seus estudos de desenho e pintura com Iberê Camargo. A partir de 1966, incorporou ícones gráficos e elementos da pop art à sua obra. Desenvolveu também trabalhos de arte aplicada e combinou investigações sensoriais com a denúncia política.

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Obras E Movimentos Opinião 65 E Nova Objetividade Brasileira

Em 1965, um grupo de 29 artistas plásticos realiza no Rio de Janeiro a mostra “Opinião 65”, uma experiência de vanguarda que seria repetida no ano seguinte e da qual surgiria o conceito de antiarte. Em 1967, a proposta foi expandida na exposição coletiva “Nova Objetividade Brasileira”, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, uma espécie de balanço das correntes de vanguarda e de suas inclinações políticas.

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Parangolés

Na exposição “Nova Objetividade Brasileira” (1967], Hélio Oiticica apresentou “Tropicália, um Penetrável”, construção em madeira com porta deslizante onde o visitante se fechava. A influência conceitual da obra transbordou para a canção popular, o cinema e o teatro pelo movimento tropicalista. O artista também apresentou os parangolés, capas que o espectador vestia e que se movimentavam como se fossem extensões do corpo humano. Com eles, o artista acreditava estar fundindo cor, estruturas, sentido poético, dança, palavra e fotografia.

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Orhhhhhh

O Ato Institucional n° 5 (AI-5] provocou refluxo e trouxe radicalismo às artes plásticas. Muitos artistas deixaram o país. Entre eles, Hélio Oiticica, Lygia Clark, Rubens Gerchman, Antônio Dias, Franz Krajcberg e Sérgio Camargo. Para os que ficaram, a arte passou a ser uma aventura radical, dramática e cheia de riscos. Em 1969, Artur Barrio expôs no MAM carioca sua obra intitulada “ORHHHHHH”, composta por lixo, papel higiênico e trouxas de pano ensanguentadas.

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Inserções em Circuitos ideológicos

Nos anos 1970, Cildo Meireles evocou a luta armada com o projeto “Inserções em Circuitos Ideológicos”. O artista convocava o espectador a aderir a uma espécie de guerrilha artística, ensinando-o a imprimir informações e opiniões críticas em rótulos de Coca-Cola ou em notas de dinheiro, que eram, em seguida, devolvidas à circulação. No Projeto Cédula, a proposta era driblar a censura para divulgar o assassinato do jornalista Vladimir Herzog na sede do DOI-Codi paulista (1975].

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Do Corpo A Terra

Em 1970, o evento “Do Corpo à Terra”, que pretendia inaugurar o Palácio das Artes em Belo Horizonte, estabeleceu um marco criativo de extrema violência e radicalidade da produção experimental brasileira. Cildo Meireles queimou galinhas vivas no trabalho “Tiradentes Monumento-Totem”, uma denúncia da guerra do Vietnã. Artur Barrio jogou trouxas ensanguentadas com ossos e carnes de animais no ribeirão Arrudas, que atravessa a cidade. Luiz Alphonsus, em sua obra “Napalm”, incinerou 15 metros de plásticos numa alusão à destruição das aldeias e plantações do Vietnã pelas tropas americanas. O evento mobilizou cerca de 5 mil pessoas e a inauguração terminou na delegacia após a chegada do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar.

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Censura 1969

A dimensão coletiva e transgressora dos salões de artes plásticas atraiu a censura. Em 1969, no 4º Salão de Brasília, o júri precisou atuar para evitar que alguns trabalhos fossem censurados e impedidos de serem expostos. No 3º Salão de Ouro Preto (MG], o júri nem chegou a ver algumas das gravuras inscritas – foram proibidas antes. Na 2ª Bienal da Bahia, a exposição foi fechada e seus organizadores, presos. Os trabalhos considerados eróticos ou subversivos foram apreendidos.

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Atelier Presídio Tiradentes

São Sebastião (Lamarca]. Obra realizada por Sérgio Ferro. Técnica: Óleo sobre papel, tela e madeira. Data: 1971

Não foram poucos os artistas plásticos que se envolveram com as organizações de esquerda revolucionária. Na Ação Libertadora Nacional (ALN], havia um grupo de arquitetos e artistas integrado por Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre, Carlos Heck, Júlio Barone e Sérgio de Souza Lima. Na Ala Vermelha, militaram Alípio Freire e Carlos Takaoka. No Movimento de Libertação Popular (Molipo], Antônio Benetazzo, que acabou assassinado pela repressão ao reingressar no país vindo de Cuba. No Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR], havia Sérgio Sister. No Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8], Carlos Zílio e Renato da Silveira. Zílio produziu um grande número de peças na prisão com o escasso material de que dispunha: papel e caneta hidrográfica. Os desenhos, que sua mulher levava para casa, só foram expostos dois anos depois de sua liberação, em 1972. Rodrigo Lefèvre e Sergio Ferro cumpriram pena no Presídio Tiradentes, em São Paulo, e também criavam o que podiam com a matéria-prima que conseguiam.

Resistência cultural / Artes Plásticas
Obras e Movimentos
Sergio Ferro "sem Titulo"

Sem título. Pintura realizada por Sergio Ferro no Presídio Tiradentes. Técnica: Tinta acrílica e nanquim sobre cartão. Data: 1972.

Depoimento do artista: “Quando não se podia falar, era através da pintura que a gente podia se manifestar. Lembro até hoje do dia em que fiz um quadro sobre a morte do Lamarca e de certa maneira foi aquele silêncio. Foi a nossa maneira de expressar a nossa raiva”.