1959 dezembro
Antonio Candido lança um clássico
‘Formação da Literatura Brasileira’ situa no Arcadismo o início de nossa literatura
A Livraria Martins Editora publica “Formação da Literatura Brasileira”, do historiador e crítico literário Antonio Candido. É uma contribuição ao movimento que, em diversas áreas do conhecimento, tenta explicar a realidade brasileira a partir de sua história e de suas raízes.
A obra, em dois volumes, integrava o mesmo esforço intelectual de “Formação Econômica do Brasil” (1959), de Celso Furtado, e “Os Donos do Poder” (1958), de Raymundo Faoro, obras que sucederam e deram continuidade ao movimento que, nos anos 1930, propusera-se a encontrar as raízes brasileiras — procurando entender as causas do subdesenvolvimento do país.
Os estudos de Antonio Candido colaboraram na construção de um juízo crítico sobre a literatura brasileira, em seus aspectos estéticos, históricos e formais. Trabalhando tanto pela perspectiva do historiador quanto pela de crítico literário, o autor reavalia nossa produção literária a partir de meados do século 18, quando surgiu o Arcadismo.
Ele sustenta que essa escola marcou o início da formação de um sistema literário genuinamente brasileiro, corte que provocaria algumas críticas na área acadêmica — como a de Haroldo de Campos, que o rotulou de “sequestro do Barroco”, ou seja, a negação desse período como parte do processo de formação da literatura do país.
Para Candido, porém, um “sistema” literário se estabelece a partir do momento em que se articulam autores, obras e público leitor numa dinâmica capaz de fixar e reconhecer uma tradição. Nessa perspectiva, o escritor luso-brasileiro Cláudio Manoel da Costa representaria o limiar entre esses dois momentos distintos, uma vez que sua obra se associa à de autores como Basílio da Gama, Silva Alvarenga e Tomás Antônio Gonzaga, empenhados na emancipação da colônia, tanto na política (alguns se envolveram na Conjuração Mineira de 1789) quanto na literatura.
Antonio Candido teve sua formação acadêmica na Universidade de São Paulo (USP), que, a partir de 1936, criou e consolidou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) com a contribuição de grandes intelectuais trazidos da França, como Roger Bastide, Jean Maugüé, Claude Lévi-Strauss e Pierre Monbeig. Depois do doutorado, migrou da sociologia para a crítica literária.
O trânsito de Candido por diversas áreas do conhecimento — sociologia, direito, história, filosofia e literatura — foi a base sobre a qual se estruturou a dimensão sistêmica de sua teoria literária.