1945 18 de julho
Multidão em festa recebe os pracinhas
Retorno dos heróis da FEB reforça a luta pela redemocratização do país
O Brasil está parado. Aproveitando o feriado nacional decretado pelo governo, uma multidão enche as ruas da capital da República para saudar os primeiros pracinhas da Força Expedicionária Brasileira (FEB) a voltar ao país, vitoriosos na campanha da Itália. Trens, bondes e barcos trazem milhares de pessoas, vindas de todos os bairros, dos subúrbios, dos morros, da capital, de Niterói e de outras cidades para homenagear os heróis que ajudaram a derrotar o nazifascismo na 2ª Guerra Mundial.
Logo cedo, os sinos das igrejas de Nossa Senhora da Glória do Outeiro e do Sagrado Coração de Jesus anunciaram a chegada do navio trazendo os heróis nacionais. Getúlio foi recebê-los no cais. De lá, seguiu com autoridades civis, militares e religiosas para o palanque montado na avenida Rio Branco.
O desfile durou a tarde inteira. Das janelas dos edifícios, das marquises, das copas das árvores e de todos os cantos, a multidão saudava os heróis de guerra, que desfilaram da praça Mauá até o Obelisco. Grupos de aviões, nos céus, encantavam a multidão, que batia palmas, agitava bandeiras do Brasil e jogava confetes e papéis picados sobre os soldados.
O retorno dos pracinhas reforçou ainda mais a luta pela democratização do país. Nos campos de batalha, eles haviam reforçado seu compromisso com a causa da liberdade e da democracia. E não escondiam isso. Tanto que o jornal de trincheira do 1º Batalhão de Infantaria, que lutou na Itália, chamado “E a Cobra Fumou!”, trazia abaixo do seu título uma provocação ao regime: “Não é registrado no DIP”. DIP era o poderoso Departamento de Imprensa e Propaganda, órgão que, durante o Estado Novo, controlava toda a informação no país.
Com o fim da guerra na Europa, no Brasil o povo não cantava só a “Canção do Expedicionário”, mas também o sucesso de Jorge Veiga “Cabo Laurindo”, samba de Wilson Batista que dizia:
“Laurindo voltou, coberto de glória,
Trazendo garboso no peito a cruz da vitória!
Mas Salgueiro, Mangueira, Estácio e Matriz estão aqui
Para homenagear o bravo cabo Laurindo!
As duas divisas que ele ganhou, mereceu:
Conheço os princípios que Laurindo sempre defendeu!
Amigo da verdade, defensor da igualdade,
Dizem que lá no morro vai haver transformação:
Camarada Laurindo, estamos a sua disposição!"