1950 10 de outubro
Porecatu: posseiros resistem com armas
Estimulados pelo PCB, lavradores se armam e enfrentam policiais e grileiros
Posseiros apoiados pelo PCB, de um lado, e fazendeiros e grileiros protegidos por jagunços, pistoleiros e pela própria polícia, de outro, entram em confronto armado.
Era o início da revolta de Porecatu — também conhecida como revolta do Quebra-Milho —, conflito no norte do Paraná que inaugurou uma série de combates fundiários ocorridos no país ao longo dos anos 1950, como o de Trombas e Formoso, em Goiás, e os do sudoeste do Paraná.
O conflito em Porecatu teve suas raízes no final da década de 1930. Em 1938, Getúlio Vargas havia inaugurado um amplo programa governamental — a Marcha para o Oeste — que previa a organização de territórios, a divisão do país em regiões geográficas, o controle dos fluxos migratórios e investimentos nas áreas dos transportes e comunicações.
É nesse contexto que trabalhadores rurais, vindos sobretudo do estado de São Paulo, ocuparam as áreas rurais de Porecatu, Jaguapitã e Centenário do Sul, região de terra roxa e de expansão da cafeicultura, no norte do Paraná. Assentados em pequenas propriedades, em uma área devoluta de alta produtividade incrustrada entre latifúndios, os camponeses cultivavam café e hortas alimentares e criavam porcos.
Poucos anos depois se tornariam alvos da violência da polícia e dos jagunços. O PCB, em processo de radicalização desde que fora colocado na clandestinidade, enviou quadros políticos para a região e, por sua orientação, foram fundadas em 1944 as primeiras ligas camponesas do Paraná. As ligas de Guaraci e do ribeirão do Tenente reuniram centenas de famílias de trabalhadores rurais com o objetivo de pressionar as autoridades estatais a legalizar a posse da terra.
Em 1946, 1.500 posseiros fecharam a rodovia entre Londrina (PR) e Presidente Prudente (SP) para chamar a atenção para sua luta.
Um dos principais quadros enviado pelo PCB a Porecatu foi João Saldanha, que permaneceu na região de 1950 a 1955. Mais tarde, Saldanha seria um dos mais importantes comentaristas esportivos do Brasil e o técnico que classificaria a Seleção Brasileira de Futebol para a Copa do Mundo de 1970.
Obstruídos os caminhos de resistência pacífica, parte dos posseiros aderiu, em 1948, à luta armada proposta pelo PCB e recebeu treinamento militar. Os que não pegaram em armas mantiveram a luta pelas vias legais.
Os rebeldes armados invadiram fazendas, enxotaram a tiros jagunços e sequestraram fazendeiros. Em fevereiro de 1951, promoveriam suas ações de maior envergadura: a retomada das fazendas Centenário e Tabapuã, o controle do Porto de Itaparica, no rio Paranapanema, e a ocupação da estrada que ligava Porecatu à cidade de Centenário.
A repressão foi violenta. O Exército, a Força Pública e a Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) cercaram a região. As prisões de dirigentes comunistas e de integrantes da guerrilha permitiram à polícia chegar a seus acampamentos e estoques de armas. Dezenas de trabalhadores foram presos, e a maioria dos camponeses acabou sendo expulsa da área.
Apenas 380 famílias seriam reassentadas depois do conflito, mas em outras regiões do estado.