1958 22 de fevereiro
Os trabalhadores não usam black-tie
Peça de Guarnieri retrata vida, ideias e sonho de família que mora na favela
O Teatro de Arena estreia a primeira montagem de “Eles Não Usam Black-Tie”, escrita por Gianfrancesco Guarnieri e dirigida por José Renato. A peça, que leva ao palco a realidade do trabalhador urbano, revoluciona o teatro brasileiro ao usar a própria linguagem do operário: diálogos simples e espontâneos, que conseguem aproximar a temática — a vida de uma família que mora na favela — da plateia.
Segundo o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho, a peça tem o mérito de derrubar o estereótipo do favelado, retratado sempre como bandido, malandro ou politicamente acomodado. Em “Eles Não Usam Black-Tie”, ele é apresentado como um cidadão com família, trabalhador e sujeito histórico preocupado em construir uma sociedade mais solidária e justa.
Em alguns momentos, a peça romantiza a vida do homem pobre. Apresenta o morro como uma sociedade ainda imune à desumanização da cidade, e por isso solidária.
A proposta do Teatro de Arena esteve sempre marcada pelo ineditismo estético e temático. O palco em círculo, no meio da plateia, permitia grandes mudanças cenográficas, interpretativas e na relação com o público.
O grupo se notabilizaria por introduzir na cena brasileira peças que retratavam o cotidiano das camadas populares, com nítido conteúdo político e social. Com a peça de Guarnieri, daria um grande passo em direção ao objetivo de artistas e intelectuais que o fundaram, em 1956, em busca de uma cultura genuinamente popular — resgate considerado fundamental para mover o país em direção à revolução.