1992 12 de outubro
O timoneiro que foi tragado pelo mar
Líder da transição e da Constituinte morre em acidente de helicóptero
Após um feriado prolongado, o helicóptero que leva o deputado Ulysses Guimarães decola de Angra dos Reis (RJ) em direção a São Paulo. No trajeto entre as duas cidades, sob mau tempo, um acidente provoca a queda da aeronave no mar. O corpo do Senhor Diretas nunca foi encontrado.
No mesmo acidente morreram a mulher de Ulysses, Mora Guimarães, o senador Severo Gomes e sua esposa, Henriqueta, além do piloto do helicóptero. Seus corpos e os destroços da aeronave foram localizados entre Parati (RJ) e Ubatuba (SP).
Ulysses Guimarães elegeu-se deputado federal pela primeira vez em 1947, pelo PSD, e nunca mais deixou a Câmara, onde cumpriu 11 mandatos parlamentares. Apoiou inicialmente a deposição de João Goulart, mas com o Ato Institucional n° 2, que instituiu o bipartidarismo, filiou-se à legenda de oposição, o MDB, que passaria a presidir a partir de 1971. Com o endurecimento do regime militar, Ulysses assumiria o papel de líder da frente de oposição à ditadura.
Em 1973, lançou-se como “anticandidato” a presidente contra o general Ernesto Geisel no Colégio Eleitoral. Juntamente com seu companheiro de chapa, Barbosa Lima Sobrinho, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), percorreu o país, denunciando abusos da ditadura e pregando a redemocratização.
Em 1984, como presidente do PMDB, liderou a campanha das Diretas-Já, o que lhe valeu o título carinhoso de Senhor Diretas. No auge de sua popularidade, seria um forte candidato a presidente da República se a Emenda Dante de Oliveira, que instituía a volta das eleições diretas, tivesse sido aprovada naquele ano. Com sua rejeição pelo Congresso, Ulysses recuou em favor de Tancredo Neves, que saiu candidato pela via indireta no Colégio Eleitoral.
Com a morte de Tancredo e a posse de José Sarney, a poderosa ascendência de Ulysses sobre o governo lhe valeu o título de “condestável da Nova República”. No biênio 1987-88 acumulou as presidências do PMDB, da Câmara e da Assembleia Constituinte, destacando-se na condução dos trabalhos de elaboração da nova Carta, que ele promulgaria batizando-a de “Constituição Cidadã”.
Em 1989, concorreu à Presidência da República na primeira eleição direta pós-ditadura. Mas, já desgastado, amargou um sétimo lugar. No ano seguinte, fora da presidência da Câmara, perdeu a direção do PMDB para Orestes Quércia. Em 1992, relutou em apoiar o impeachment de Collor por temer uma crise institucional. Só aderiu ao movimento nos dias que antecederam a sua morte.