1986 8 de agosto
Militares querem a bomba atômica
Buraco na Serra do Cachimbo guardaria lixo dos testes nucleares
O jornal "Folha de S.Paulo" revela a existência de instalações subterrâneas na Serra do Cachimbo, no Pará, que oficialmente se destinariam à guarda segura do lixo atômico oriundo da usina de Angra dos Reis (RJ). Entretanto, o local seria usado também para a realização de testes para a construção de equipamentos bélicos, como bombas de fragmentação, foguetes e mísseis convencionais – e a própria bomba atômica, com a qual alguns segmentos militares sonharam durante a ditadura.
A reportagem revelou que desde 1981 as Forças Armadas vinham realizando levantamentos geológicos e hidrológicos da área. Um mês antes da publicação, havia sido concluída a construção de um poço de 320 metros de profundidade por um metro de largura. O buraco era revestido de cimento e aço, supostamente para servir a testes nucleares. O presidente José Sarney foi taxativo ao negar o envolvimento de seu governo com o projeto. “Por essa mesa, nunca passou nenhum documento desse tipo”, afirmou. Entretanto, nos anos seguintes, o Ministério da Aeronáutica confirmaria a existência do campo de testes.
Devido a questionamentos internacionais cada vez mais intensos – o Brasil era também acusado de colaborar em um projeto nuclear desenvolvido pelo Iraque –, em setembro de 1990 o governo Collor decidiu destruir as instalações militares da Serra do Cachimbo, jogando "uma pá de cal" no poço que custara mais de US$ 5 milhões aos cofres públicos. Em 1998, o Brasil aderiu ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), subscrito por mais de 190 países.