1963 7 de outubro
Polícia mata 30 no massacre de Ipatinga
Manifestação trabalhista vira tumulto, e PMs abrem fogo contra multidão
Grupos armados com metralhadoras, fuzis e bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral abrem fogo contra centenas de operários e manifestantes que se aglomeravam na entrada da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), em Ipatinga. Pelo menos 30 pessoas são assassinadas por disparos a curta distância, inclusive uma criança de três meses, embora a contabilidade oficial só registre oito mortes. Centenas ficam feridas.
Naquele mês de outubro de 1963, estava em pauta o reajuste salarial na Usiminas. No dia 6, ocorrera uma assembleia dos funcionários — coordenada pelo Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Coronel Fabriciano — com o objetivo de apreciar a proposta oferecida pela siderúrgica, que era de 38% de setembro a dezembro.
Apesar da rispidez dos debates, bastante conturbados, a proposta acabou aceita pela maioria dos trabalhadores. Todavia, o clima de tensão política que se estendia havia meses não cessou: os trabalhadores estavam mobilizados para enfrentar os problemas relacionados a moradia, transporte e alimentação.
O atrito entre os operários e o corpo de vigilância da usina, que tinha a função de controlar as atividades dos funcionários, crescia progressivamente, inclusive com a presença da Polícia Militar, eventualmente convocada para conter os embates.
No mesmo dia 6, quando os trabalhadores trocavam de turno, os vigilantes começaram uma revista, o que causou grande indignação e provocou tumulto, pois os nervos já estavam à flor da pele.
A confusão teria tomado maiores proporções quando o trabalhador Odir Rodrigues reagiu e foi espancado pelos vigilantes. A polícia logo apareceu, com o Regimento da Cavalaria Militar e uma viatura. Os trabalhadores, revoltados, enfrentaram os militares noite adentro, com armas improvisadas. Várias pessoas se feriram. Aos poucos, porém, os trabalhadores foram se dispersando ao longo da madrugada.
Na manhã do dia 7, os mesmos operários que foram perseguidos se dirigiram à entrada da usina, muitos deles feridos e exaustos após os conflitos da madrugada, com o objetivo de sensibilizar os companheiros sobre o episódio, para que fosse organizada uma paralisação de protesto, exigindo a libertação dos operários ainda presos.
A Polícia Militar, mais uma vez, marcou presença — foi quando teve início o terrível episódio que entraria para a história como o “massacre de Ipatinga”.
Os trabalhadores e a população de Ipatinga voltariam a se manifestar no dia seguinte, depredando a cadeia pública, incendiando veículos e promovendo um comício em protesto contra a violência policial.
Os policiais envolvidos no episódio seriam detidos por 30 dias, e alguns deles, afastados da corporação. Depois do golpe militar de abril de 1964, porém, as punições seriam revertidas, e os trabalhadores envolvidos seriam perseguidos, presos e torturados.