2001 23 de abril
Crimes e renúncias causam crise no Senado
Rivalidade entre ACM e Jáder Barbalho agitam a Casa por quase dois anos
O senador José Roberto Arruda admite ter tido acesso à lista de votação secreta da sessão que cassou o senador Luiz Estevão, em junho de 2000. A confissão é feita depois de Arruda e o senador Antonio Carlos Magalhães, que presidia a Casa na época da cassação, terem sido acusados de ordenar a violação do painel eletrônico. O episódio foi um dos que marcaram a grave crise interna criada pela disputa pelo comando do Senado entre dois importantes líderes do governo Fernando Henrique: Magalhães (PFL) e Jáder Barbalho (PMDB).
A rivalidade começara no início de 2000 e se agravou quando ACM acusou Jáder de exercer tráfico de influência e patrocinar um esquema de corrupção na Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam). Ao longo do ano, os dois parlamentares trocaram ofensas e acusações pesadas no plenário, despertando em seus pares o receio de um confronto físico.
As investigações sobre a violação do painel do Senado foram abertas em março de 2001, quando foi revelado que, numa conversa com o procurador Luiz Francisco de Souza, ACM insinuou ter tido acesso à lista da votação da cassação de Luiz Estevão. A conversa foi gravada pelo procurador, que a divulgou. As investigações internas concluíram que a violação fora ordenada pelo senador Arruda (PSDB), líder do governo, a pedido de ACM, que pretendia usar as informações contra seus adversários na Casa. Os dois foram processados pelo Conselho de Ética e renunciaram para evitar a cassação.
Jáder conseguiu se eleger presidente do Senado em fevereiro de 2001, derrotando o candidato de ACM, Arlindo Porto (PTB). Diante da neutralidade do presidente Fernando Henrique, ACM acusou o governo de conivência com a corrupção na Sudam, o que provocou a demissão de dois ministros por ele indicados. O senador baiano ficou ainda mais isolado e politicamente enfraquecido.
Jáder, por sua vez, começava a enfrentar as investigações da Polícia Federal desencadeadas pela denúncia que ACM apresentara contra ele ao Ministério Público. A enxurrada de acusações incluía irregularidades diversas na Sudam e desvios de recursos do Banco do Estado do Pará (Banpará).
Em 20 de julho, ele se licenciou da presidência do Senado por 60 dias. Reassumiu o cargo em setembro e renunciou uma semana depois. Após a abertura do processo de sua cassação pelo Conselho de Ética, contando com o apoio apenas dos parlamentares de seu partido, Jáder renunciou em 5 de outubro também ao mandato de senador. Na eleição de 2002, elegeu-se deputado federal e reconquistou o mandato no Senado em 2010.
ACM voltou ao Senado nas eleições de 2002 e morreu durante o mandato. Arruda elegeu-se deputado federal nesse mesmo ano e governador do Distrito Federal em 2006. Envolveu-se em novo escândalo de corrupção, foi preso e renunciou ao mandato para evitar um impeachment.