1954 8 de fevereiro
Coronéis batem de frente com Getúlio
Manifesto político critica aumento do salário mínimo e abre crise militar
Um manifesto contra o governo Vargas, redigido pelo coronel Golbery do Couto e Silva e assinado por 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis, é entregue aos comandantes militares. Entre os signatários, aparecem oficiais como Sylvio Frota, Ednardo Dávila Melo, Antônio Carlos Muricy, Adalberto Pereira dos Santos, Syzeno Sarmento e Amaury Kruel.
O Clube Militar estava cada vez mais politizado e dividido entre a ala nacionalista (chamada de “esquerdista” pelos oponentes) e a antinacionalista (também chamada “democrática”, ou, para os adversários, “entreguista”).
Para esta última, que em 1952 ascendera à direção da entidade, era necessário endurecer o tom com os sindicatos, e não dialogar com eles. Nesse contexto, e numa clara manifestação de insubordinação, assinaram o Manifesto dos Coronéis, com duras críticas ao governo.
O estopim da manifestação tinha sido a decisão do ministro do Trabalho, João Goulart, de dobrar o valor do salário mínimo, recusando-se a reprimir o movimento sindical, altamente mobilizado pela grave crise econômica e pela inflação que corroía o valor real dos salários.
O manifesto expressava o mal-estar da oficialidade alinhada ao grupo antinacionalista contra o desaparelhamento das Forças Armadas e os ganhos de remuneração do funcionalismo civil — que decorreria do aumento do salário mínimo —, em detrimento dos soldos dos militares.
Interpretado como expressão do desconforto da oficialidade ameaçada pela ascensão da classe trabalhadora, o manifesto — que pediria também a união contra o comunismo, “solerte e à espreita” — revelaria mais do que isso: a existência de um setor militar pouco disposto a respeitar a vontade das urnas, o que representava um risco real às instituições democráticas.
Numa tentativa de conter a crise, o presidente Getúlio Vargas articularia o afastamento do ministro João Goulart — uma concessão aos militares descontentes — e demitiria o ministro da Guerra, Ciro do Espírito Santo Cardoso, por ter permitido aquele ato de insubordinação dentro das Forças Armadas.
Dez anos depois, Golbery estaria na origem e no centro da ditadura imposta ao país pelo golpe de 1964, e os oficiais, já promovidos a generais, ocupariam a linha de frente da conspiração golpista e da própria condução do regime.