1960 24 de junho
Ação dos sem-terra faz nascer o Master
Movimento promove acampamentos e reivindica distribuição de terras no RS
Nasce o Movimento dos Agricultores sem Terra (Master), resultado da luta de trezentas famílias de camponeses sem terra, que vêm resistindo à reintegração de posse de 1.800 hectares na localidade de Faxinal, município de Encruzilhada do Sul (RS).
Nos dois anos seguintes, com o apoio do governador Leonel Brizola e do PTB, e também de militantes do PCB, o Master organizaria associações rurais nos municípios gaúchos.
Em 1962, o Master passaria a organizar acampamentos ao lado das áreas que queria ver desapropriadas, geralmente terras públicas ou ainda terras particulares mas sem comprovação de posse ou improdutivas.
Os primeiros acampamentos realizados pelo Master, em 1962, seriam nos municípios de Sarandi e na localidade de Banhado do Colégio, em Camaquã. As duas áreas, desapropriadas pelo governo do estado, incentivariam a formação de centenas de acampamentos, que se converteriam numa marca registrada do movimento.
Sem violar a lei, pois não ocupavam o latifúndio, e utilizando como base legal os artigos 173 e 174 da Constituição do Rio Grande do Sul — que previam a desapropriação das terras devolutas ou improdutivas — os agricultores acampados reivindicavam a desapropriação e distribuição das terras.
O movimento logo ganharia autonomia em relação ao governo estadual e atuaria sob orientação das associações rurais. Mesmo assim, dezenas de outras fazendas ainda seriam desapropriadas.
Brizola havia demonstrado preocupação com a regularização das terras do estado e desde o início de seu governo e não hesitou em intervir em favor dos posseiros quando eclodiu o conflito de Faxinal — enviando brigadas militares para proteger os lavradores nas áreas em litígio — e em apoiar a criação do Master.
Outras medidas foram tomadas por seu governo em favor do movimento, como a criação de um grupo de trabalho para estudar a introdução da reforma agrária no estado e o reconhecimento, como entidades de interesse público, das mais de dez associações rurais então existentes.
Em janeiro de 1962, o governo lançaria o Programa de Projetos Especiais de Reforma Agrária e Desenvolvimento Econômico-Social; em abril do mesmo ano, criaria o Instituto Gaúcho de Reforma Agrária (Igra). Ambos teriam o objetivo de organizar as cooperativas e comunidades de pequenos e médios agricultores e promover a democratização da propriedade da terra.
Nesse ano, o governador dividiria com os sem-terra parte de sua fazenda Pangaré, localizada em São José do Norte, pedindo aos fazendeiros que doassem pelo menos 10% de suas propriedades. O próprio presidente João Goulart faria o mesmo.
Brizola seria sucedido no governo por Ildo Meneghetti (PSD), que reprimiria violentamente o movimento e promoveria um desmonte no Igra, demitindo 33 dos 30 funcionários.
O Master sobreviveria até 1964, chegando a articular-se com Brizola e entidades estudantis e sindicais para resistir ao golpe militar.