1960 21 de abril
JK inaugura Brasília, nova capital do país
Presidente cumpre promessa e realiza projeto parado desde o século 19
O presidente Juscelino Kubitschek cumpre promessa de campanha e, em menos de quatro anos, consegue transferir a capital do país para o Planalto Central, como previam as Constituições de 1891 e 1946. Brasília é a meta-síntese do ousado Plano de Metas de Juscelino, um presidente para quem o Estado deveria ser o agente propulsor do desenvolvimento.
A ideia de transferir a capital para longe do litoral era antiga. Em 1892 a Missão Cruls, chefiada pelo geógrafo belga Louis Cruls, já demarcara o quadrilátero que deveria abrigar a futura capital do país. O plano, porém, pouco avançou nos 70 anos seguintes.
Juscelino assumira o compromisso no dia 4 de abril de 1955, durante comício eleitoral em Jataí (Goiás): se eleito presidente, construiria a nova capital no Planalto Central. Em setembro de 1956, já empossado, criou a Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal e começou a tirar o projeto do papel.
O governo organizou então o Concurso Nacional do Plano Piloto da Nova Capital do Brasil. De um total de 26 projetos, o júri — que tinha Israel Pinheiro, presidente da Companhia Urbanizadora na Nova Capital (Novacap), estatal criada para esse fim, e o arquiteto Oscar Niemeyer, diretor do Departamento de Urbanismo e Arquitetura da Novacap — declarou vencedor o plano piloto em forma de avião apresentado por Lúcio Costa, antigo professor da Escola Nacional de Belas-Artes.
Passado o concurso, Niemeyer ficou responsável pelo projeto dos monumentais palácios da Alvorada, Planalto e Itamaraty, e ainda os prédios do Ministério da Justiça, do Congresso Nacional, da Catedral Metropolitana e do Cine Brasília — todos concluídos antes da inauguração, quando Brasília já abrigava o moderno conjunto urbanístico que, décadas depois, a consagraria como Patrimônio Cultural da Humanidade.
Milhares de operários trabalharam dia e noite para construir a cidade no meio do nada. O próprio presidente costumava dividir seu tempo entre o palácio do Catete, no Rio de Janeiro, e o Catetinho, uma provisória estrutura de madeira erguida numa clareira próxima das obras. Mesmo assim, era difícil crer que um plano tão audacioso pudesse se realizar em tão pouco tempo. A oposição, principalmente a União Democrática Nacional (UDN), só não barrou o projeto porque apostou no fracasso do empreendimento.
A construção de uma cidade em tempo recorde não foi isenta de polêmica. Os operários, vindos principalmente do Nordeste, de Goiás e do norte de Minas Gerais, enfrentaram condições precárias de trabalho e de moradia. Muitos se insurgiram contra essa situação e foram reprimidos pela temida Guarda Especial de Brasília. Até hoje não há certeza sobre o número de trabalhadores mortos e acidentados nas obras. Não bastasse isso, a oposição ainda acusava as empreiteiras e o governo de corrupção na execução do projeto.
Controvérsias à parte, o fato é que, entre 1956 e 1960, enquanto operários, engenheiros e mestres de obras dos quatro cantos do país rasgavam largas avenidas e erguiam prédios gigantescos no meio do Cerrado, Brasília já cumpria sua missão de integração nacional.