1963 17 de março
A esquerda católica lança seu jornal
Com inspiração na resistência francesa, dominicanos publicam o 'Brasil, Urgente'
Frades da Ordem Dominicana lançam o semanário “Brasil, Urgente”, após reunir oito mil acionistas para seu projeto. Trata-se de “um jornal do povo a serviço da justiça social”, segundo o slogan estampado na primeira página.
Na época do lançamento, a Ordem Dominicana era um dos setores católicos que mais apostavam na aproximação da igreja com os grupos sociais populares e na possibilidade de construir uma sociedade mais justa e igualitária.
No contexto político, uma diversidade de movimentos sociais se organizava em torno da plataforma das Reformas de Base defendida pelo presidente João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). A mobilização social era intensa, particularmente no que se referia à reforma agrária e ao direito de voto dos analfabetos.
Os católicos progressistas não ficaram de fora: desde 1961, as palestras do teólogo dominicano frei Carlos Josaphat e as missas celebradas no convento dominicano de Perdizes, em São Paulo, reuniam centenas de pessoas em torno de uma doutrina cristã de justiça social.
Participavam dos eventos importantes nomes da esquerda do período, como Miguel Arraes, governador de Pernambuco pelo Partido Social Trabalhista (PST), e Paulo de Tarso Santos, ministro da Educação e Cultura do governo Jango. Para difundir e amplificar o alcance destes debates é que foi criado o “Brasil, Urgente”.
Com sede em São Paulo, o jornal alcançaria dimensão nacional, com sucursais nas mais importantes capitais do país. Segundo o frei Carlos Josaphat, seu idealizador, o periódico fora inspirado na imprensa clandestina surgida na França durante a ocupação nazista. Nascera, portanto, com a missão de apoiar e promover a libertação do povo brasileiro.
O semanário logo se integraria ao movimento operário cristão, num cenário onde já atuavam juntos, na trincheira progressista, a Juventude Operária Católica (JOC) e os padres operários.
Em pouco mais de um ano de circulação, ”Brasil, Urgente” somaria 55 edições e abordaria temas nas áreas da cultura, economia, política e humor. Também publicaria entrevistas com lideranças de esquerda, como Vinicius Caldeira Brant, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e futuro cofundador da Ação Popular (PA), e Mauro Borges, governador de Goiás e defensor das Reformas de Base.
Entre os periódicos da época, “Brasil, Urgente” se distinguiria por sua postura afinada com a esquerda católica e por sua dimensão assumidamente opinativa. Justamente por isso, teria vida curta: seria fechado logo após a tomada do poder pelos militares, em 1964.