1986 25 de junho
Brasil e Cuba reatam laços diplomáticos
22 anos após o rompimento, medida apaga mais uma nódoa da ditadura
Após meses de discretas negociações bilaterais, iniciadas em 1985, e de delicadas ações para contornar resistências internas, o presidente José Sarney e o chanceler Abreu Sodré oficializam o reatamento das relações diplomáticas com Cuba. Com o gesto, o governo emitia um sinal externo de independência da diplomacia brasileira na nova era democrática. Internamente, a iniciativa sinalizava também a remoção de mais uma herança autoritária da ditadura.
A primeira ação internacional importante do regime militar instaurado no Brasil pelo golpe de 1964 havia sido o rompimento das relações diplomáticas com Cuba. O receio de que o Brasil seguisse o exemplo da revolução cubana e se alinhasse à União Soviética foi um dos pretextos para a deposição do presidente João Goulart, também utilizado pelos Estados Unidos para apoiarem o golpe. Desde 1983, o deputado João Hermann Neto, do PMDB, fazia campanha pela restauração do relacionamento entre os dois países a partir de sua atuação na Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
Após o reatamento, iniciou-se uma intensa troca de visitas de alto nível, incluindo a do chanceler brasileiro a Havana em 1987 e a do presidente Fidel Castro ao Brasil em 1989. Em 1988, os países reconciliados assinaram tratado de cooperação que daria origem a um profícuo relacionamento.
Novo impulso seria dado a partir de 2003, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou Cuba e lá assinou 12 acordos em diferentes áreas, com destaque para o reconhecimento de diplomas na área de saúde, a concessão de bolsas de estudo, o apoio da Petrobras à pesquisa petrolífera na ilha e a produção de etanol a partir da cana, produto abundante no país.
Lula também incentivou empresários brasileiros a investirem em Cuba, que se esforçava para recompor sua economia depois da derrocada do socialismo na União Soviética. Uma dessas parcerias viria a ocorrer na construção do Porto de Mariel. Como presidente, ele ainda visitou o país duas vezes em 2008 e uma quarta vez em 2010. Em 2014, a presidenta Dilma Rousseff implantou o programa Mais Médicos, com importante participação dos médicos cubanos.