1961 16 de janeiro
Polop vem contestar a hegemonia dos PCs
Novo grupo de esquerda propõe revisão teórica sobre a revolução brasileira
É criada a Organização Revolucionária Marxista — Política Operária (ORM-Polop), em congresso realizado em Jundiaí, interior de São Paulo. A nova organização se dispõe a contestar a hegemonia dos partidos comunistas e a interferir politicamente na realidade nacional com base no método “estudar, propagar e organizar”, que se traduziria como estudar a teoria revolucionária, propagá-la entre os proletários e organizá-los para que tenham autonomia política de ação.
No momento de sua criação, a Polop reunia um grupo expressivo de intelectuais interessados em produzir interpretações da realidade brasileira. Na formulação de uma “teoria da dependência”, por exemplo, Theotonio dos Santos e Rui Mauro Marini não viam, no capitalismo, alternativa de crescimento para os países subdesenvolvidos, nos quais o sistema só se mantém pela força das ditaduras.
A Polop teria um importante papel na discussão teórica que se contrapunha à linha do PCB, ligado a Moscou, e ao dogmatismo das esquerdas em geral. Após o golpe de 1964, a organização seria uma das matrizes dos movimentos que optaram pela luta armada como estratégia revolucionária e de combate à ditadura militar.
O esforço em atuar na classe operária marcaria a trajetória da organização, preocupada em recrutar militantes operários e criar um programa para um partido operário autônomo, capaz de tomar o poder por meio de uma insurreição proletária urbana.
A Polop surgiu da articulação de grupos originários da Juventude Socialista do Partido Socialista Brasileiro (PSB), na Guanabara, e da Juventude Trabalhista do PTB, em Minas Gerais.
Para lá convergiu também boa parte dos membros da Liga Socialista Independente — pequeno grupo paulista que se inspirava no pensamento marxista e democrático da revolucionária alemã Rosa Luxemburgo. Nessa liga militavam intelectuais como Hermínio Sacchetta, Paul Singer, Michel Löwy, Maurício Tragtenberg e os irmãos Eder e Emir Sader.
A Polop atraiu também intelectuais como Moniz Bandeira, Vânia Bambirra, Nilmário Miranda, Carlos Tibúrcio e Otavino Alves da Silva — além da secundarista Dilma Vana Rousseff, futura presidenta da República, que também iniciou sua militância na Polop, em Belo Horizonte.
A Polop sofreu grande influência do austríaco Eric Sachs, socialista judeu que fugiu para o Brasil na Segunda Guerra Mundial e adotaria o codinome “Ernesto Martins”. Durante o exílio na França, nos anos 1930, Eric militara no Partido Comunista Alemão, a mais forte agremiação comunista depois da russa, e a mais autônoma em relação à União Soviética. Com base no pensamento de Eric, a Polop defenderia caminhos próprios que se adequassem à peculiaridade histórica de cada país para a luta revolucionária.
Desde o início, os quadros da Polop se dedicaram à tarefa de propaganda e organização dos operários e ao trabalho de agitação política e intervenção teórica nas forças de esquerda. O grupo teria forte atuação no movimento estudantil, sobretudo no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.
Na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, a Polop criaria o Grupo de Estudos Médicos (GEM), base de arregimentação de massas onde se combinariam estudos marxistas com debates sobre endemias rurais, democratização da saúde, controle da natalidade e temas afins.
A publicação mais importante da organização seria “Política Operária”, que circulou a partir de janeiro de 1962 — de início como jornal e, mais tarde, como revista. O nome foi herdado de um boletim mimeografado que circulou em meados de 1960 — e do qual deriva a sigla Polop.
Em oposição às teses dos dois PCs e demais organizações de esquerda, o jornal inovaria ao afirmar a caracterização plenamente capitalista do país e, em consequência, o caráter socialista da revolução brasileira.
A Polop teria ainda um jornal clandestino, “Piquete”, voltado para o trabalho de base no meio operário e sindical e editado pelo Comando de Libertação Armada (Colina), um grupo interno. Já “Comitê de Empresa”, boletim orientado para o meio operário, defenderia a organização de base dos trabalhadores paralela à estrutura sindical oficial, controlada pelo Ministério do Trabalho, como tática para sustentar a luta econômica e política da classe operária.
Militares de baixa batente eram considerados pela Polop como base do poder armado da insurreição proletária.
Em 1964, a organização articularia cabos, marinheiros, soldados e sargentos para implantar um foco de luta armada em Minas Gerais. A Marinha, porém, havia infiltrado agentes na organização, e de uma só vez invadiu apartamentos em Copacabana e prendeu cerca de 40 pessoas, no episódio conhecido como “guerrilha de Copacabana”.
Às vésperas do golpe militar de 1964, a Polop se aproximaria do trabalhismo radical de Leonel Brizola, apoiando dois movimentos liderados por ele: a Frente de Mobilização Popular (FMP), que propunha a unidade das esquerdas nacionalistas e reformistas, e os “Grupos dos Onze”, experiência de organização de massas dotada de capilaridade para atuar em todo o país.