1963 19 de novembro
Cana já colhida não vai para a moagem
200 mil trabalhadores rurais entram em greve e param as usinas após a colheita
Cortadores de cana de Pernambuco e da Paraíba dão início a uma greve. Cerca de 200 mil trabalhadores rurais cruzam os braços no momento em que as usinas já estão lotadas de
cana-de-açúcar cortada — fase da produção que exige rapidez, pois a moagem deve ser feita com a cana ainda fresca.
A paralização duraria três dias, e só terminaria com o chamado Acordo do Campo, mediado pelo governador de Pernambuco, Miguel Arraes. Os canavieiros conquistariam aumento salarial de 80%, compromisso de registro em carteira — extensivo a todos os trabalhadores das empresas agrícolas — em até 60 dias, direito de eleger delegados sindicais (para supervisionar o cumprimento da lei e do acordo) e férias remuneradas. Os patrões também se comprometeriam a não demitir os grevistas nem descontar os dias parados.
Arraes assumiu a mediação depois que milícias dos proprietários rurais reagiram com violência ao movimento e mataram líderes sindicais e camponeses. O clima de confronto também fez o governo federal enviar a Recife o ministro do Trabalho, Amauri Silva, para acompanhar as negociações.
A greve dos canavieiros teve grande adesão e forte peso político, por ter sido o resultado de uma experiência inédita de unificação de todas as forças políticas e sindicais que atuavam no campo — a Federação dos Trabalhadores Rurais de Pernambuco, os sindicatos e as Ligas Camponesas —, estabelecendo uma frente comum entre as entidades ligadas ao PCB e aquelas dirigidas por líderes independentes.
A vitória do movimento estimularia outras iniciativas de atuação conjunta. Dois meses depois da greve, as mesmas entidades fundariam a Federação dos Trabalhadores da Lavoura, Pecuária e Produção Extrativa Rural do Estado de Pernambuco.