1949 19 de fevereiro
Na ilegalidade, PCB lança dois jornais
'Voz Operária' e 'Terra Livre' divulgarão ideais socialistas no campo e na cidade
Mesmo na ilegalidade, o Partido Comunista do Brasil (PCB) mantém-se ativo e lança dois jornais: o “Voz Operária” e o “Terra Livre”. O primeiro é voltado para as mobilizações operárias, divulga as principais teses do partido e do movimento comunista; o segundo nasce para ser o principal instrumento de mobilização do PCB no campo.
Seguindo a tradição leninista, o partido considerava a imprensa seu principal instrumento de agitação e propaganda. Desde a fundação do PCB, em 1922, várias publicações se sucederam, mas acabaram fechadas, uma a uma, seja pela ação repressiva de governos, seja por divergências entre o corpo de jornalistas e o Comitê Central (CC) do partido.
O “Voz Operária” foi criado com o propósito de se tornar um jornal para a massa dos trabalhadores, com uma linguagem direta e acessível, além de fotografias, desenhos e caricaturas ao lado das reportagens. Seções sobre literatura, cinema e teatro também eram comuns, assim como espaços voltados para o entretenimento, com passatempos e palavras cruzadas.
O jornal se tornaria o porta-voz oficial do partido em 1952, quando substituiu o “Classe Operária” nesse papel. As tensões com o CC, que brotaram logo depois, se acirrariam em 1956, quando os jornalistas abriram espaço na publicação para debater o Relatório Kruschev, que denunciava os crimes cometidos por Stálin.
Por ordem do CC, estivadores invadiram as redações e expulsaram os jornalistas. A partir daí, o “Voz Operária” ficaria completamente submetido à direção partidária até 1959, quando fechou. Voltaria a circular alguns anos mais tarde, sempre clandestinamente, já no período da ditadura militar.
O “Terra Livre” seria o principal instrumento de propaganda do PCB no campo. Dirigido a um público esmagadoramente analfabeto, estimulava os alfabetizados a lerem-no em voz alta, em grupos. A proposta era informar os camponeses sobre seus direitos.
Sua seção mais popular talvez tenha sido justamente a “Conheça seus direitos”, publicada regularmente no jornal a partir de 1956. Nela se procurava denunciar, com base na legislação existente, os direitos dos trabalhadores rurais que, embora existissem no papel, eram transgredidos na prática. Citando decretos, artigos e portarias, os textos indicavam brechas legais que poderiam servir de base para reivindicações, como férias, salário mínimo, descanso remunerado e direito de organização, entre outros.
O “Terra Livre”, como não tinha redação fixa, recorria a diferentes sistemas de distribuição a cada número. Perseguido por proprietários de terra e pela polícia, sobreviveria nesse esquema até o golpe de 1964.