1935 setembro

Noel faz a crônica do Rio de Janeiro

Com seu parceiro Vadico, compõe sambas satirizando o cotidiano

“Seu garçom faça o favor de me trazer depressa, uma boa média que não seja requentada, um pão bem quente com manteiga à beça, um guardanapo e um copo d’água bem gelada”. Com estes versos, Noel Rosa começa um dos seus sambas mais sensacionais, que faz a crônica de um botequim carioca dos anos de 1930.

O samba, com melodia de Vadico, foi lançado em disco pela Odeon e logo fez sucesso nos programas de rádio. Cantado como se fosse um papo do cotidiano, o samba traça um retrato do Rio de Janeiro e de alguns de seus tipos, como o garçom e o freguês folgado, que faz do boteco a sua casa.

Esta é a letra de “Conversa de Botequim”, de Noel Rosa e Vadico:

“Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada,
Um pão bem quente com manteiga à beça,
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada.

Feche a porta da direita com muito cuidado,
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.

Se você ficar limpando a mesa,
Não me levanto nem pago a despesa.
Vá pedir ao seu patrão uma caneta,
Um tinteiro, um envelope e um cartão.

Não se esqueça de me dar palitos
E um cigarro pra espantar mosquitos
Vá dizer ao charuteiro que me empreste
Umas revistas, um isqueiro e um cinzeiro

Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa
Uma boa média que não seja requentada,
Um pão bem quente com manteiga à beça,
Um guardanapo e um copo d'água bem gelada.

Feche a porta da direita com muito cuidado,
Que não estou disposto a ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.

Telefone ao menos uma vez para 34-4333 
E ordene ao seu Osório
Que me mande um guarda-chuva aqui pro nosso escritório

Seu garçom, me empresta algum dinheiro
Que eu deixei o meu com o bicheiro
Vá dizer ao seu gerente
Que pendure essa despesa no cabide ali em frente.”