1930 26 de julho

João Pessoa é morto a tiros no Recife

Assassino é o desafeto João Dantas, que acaba preso. Crime revolta o país

O candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Liberal, João Pessoa, é assassinado a tiros numa confeitaria no centro do Recife. O crime, motivado por questões passionais e por razões políticas locais, choca o país. O assassino de Pessoa, seu inimigo político João Dantas, leva um tiro de raspão e é preso.

A tensão na Paraíba tinha crescido muito desde 1929, quando João Pessoa defendera a renovação total da bancada do estado na Câmara Federal. Seu objetivo era afastar João Suassuna, ex-presidente do estado, que apoiava a chapa Júlio Prestes/Vital Soares. Para tanto, usou das prerrogativas dadas pelo estatuto do Partido Republicano da Paraíba e assinou sozinho o manifesto de apresentação dos candidatos. Esta atitude levou vários líderes do partido a romper com a Aliança Liberal.

Os fatos mais graves aconteceram no município de Princesa, onde, no dia 23 de fevereiro, o chefe político José Pereira iniciou uma revolta (que duraria meses) contra o governo estadual: reuniu cerca de dois mil homens — na maioria jagunços — e enfrentou a bala a polícia estadual, que vinha cumprir a ordem de João Pessoa de desarmar os coronéis sertanejos. 

Para conter a revolta, João Pessoa mandou a polícia paraibana invadir casas e escritórios de pessoas suspeitas de apoiar os revoltosos, entre elas João Dantas, membro da família Suassuna. Entre os papéis confiscados, estavam algumas cartas de amor da poetisa Anaíde Beiriz, com quem ele tinha um romance malvisto pela sociedade da época. As cartas foram publicadas no jornal oficial da Paraíba, A União, o que provocou grande escândalo e a ira de Dantas, que precisou se mudar para Olinda, em Pernambuco. 

A vingança de Dantas não tardou. Ao saber que João Pessoa estava na confeitaria A Glória, no Recife (cidade vizinha de Olinda), foi até lá e atirou à queima-roupa no desafeto, que tombou morto. Logo a seguir, foi preso junto com o cunhado, Moreira Caldas.

Boa parte da opinião pública atribuiu o assassinato do político ao governo de Washington Luís. Em muitos estados realizaram-se grandes manifestações de pesar pela morte do candidato a vice-presidente pela Aliança Liberal.

Recolhidos à casa de detenção do Recife, João Dantas e Moreira Caldas seriam mortos semanas depois, degolados por populares exaltados que invadiram a cadeia. 

A versão oficial foi de que ambos se suicidaram.