África Ruanda 1962
Crianças erguem bandeiras de Ruanda durante os festejos da independência de seu país, ocorrida em 1º de julho de 1962 Crédito: AP

O reino de Ruanda era habitado pelos povos tútsis, hutus e tuas. Até 1890, durante a ocupação alemã, o país era comandado por uma monarquia tútsi, povo que, segundo a crença, tinha origem celestial e o direito divino de governar.

Após a Primeira Guerra Mundial, Ruanda deixou de ser colônia alemã e se tornou um território sob tutela da Liga das Nações. A partir de 1919, a Bélgica passou a administrar Ruanda e seu vizinho Burundi. Tanto sob a colonização da Alemanha quanto a da Bélgica, a estratificação dos povos ruandeses se manteve, cabendo aos tútsis ocupar os cargos administrativos delegados pelos colonizadores.

A tensão racial se intensificou a partir de 1957, quando nove seminaristas católicos hutus lançaram o Manifesto Bahutu, denunciando a opressão em que viviam. Em resposta, os tútsis lançaram o Manifesto dos Doze Grandes Feudais da Corte, em 1960, no qual reafirmavam sua supremacia política sobre os outros povos de Ruanda. A permanência da tutela belga agravava a questão: os tútsis queriam a transferência do poder para o seu governo, reivindicação apoiada pela própria ONU.

A crise se acentuou em 1958, com a morte do governante tútsi Mutara 3º, pois, ignorando a administração belga, os tútsis indicaram Kigeri 5º como governante e fundaram seu próprio partido, a União Nacional Ruandesa (Unar). Os colonizadores belgas estimularam então os hutus a fundar o Partido do Movimento de Emancipação dos Hutus (Parmehutu), em outubro de 1959. A partir desse momento, a violência entre os militantes dos dois partidos se acirrou, provocando mortes e destruição de vilas.

No ano seguinte, Bruxelas concedeu autonomia interna a Ruanda, aboliu a monarquia tútsi e formou um governo de transição chefiado pelo líder do Parmehutu, Grégoire Kayibanda. Sob clima de guerra civil, foram realizadas eleições, as quais optaram pela República, em 1961. A Assembleia Geral da ONU, por sua vez, marcou a data da independência da República Democrática de Ruanda para o dia 1º de julho de 1962, insistindo na necessidade de um governo pluriétnico. O pedido foi atendido, mas o recém-independente país africano viveu, a partir dos anos 1960, um dos maiores genocídios do século 20.