1963 9 de março

Fracassa pedido de ajuda aos EUA

San Tiago Dantas conversa com Kennedy e com o FMI, mas volta com acordo pífio

O ministro da Fazenda do governo presidencialista de João Goulart, San Tiago Dantas, inicia viagem de três semanas aos Estados Unidos com o objetivo de obter ajuda financeira imediata ao Brasil, dentro do programa Aliança para o Progresso, e renegociar a dívida com o Fundo Monetário Internacional. Promete em troca o ajuste de contas públicas previsto no Plano Trienal, formulado por ele e pelo ministro extraordinário do Planejamento, Celso Furtado.

Embora não abandonasse o compromisso com o desenvolvimento econômico, o plano previa medidas impopulares, como a limitação do crédito, a suspensão de aumentos salariais e o fim dos subsídios ao trigo e ao petróleo.

Antes da viagem, a equipe do embaixador do Brasil em Washington, Roberto Campos, expusera ao ministro da Fazenda as impressões do governo norte-americano sobre o país. Para o governo Kennedy, a situação política era mais importante do que a financeira ou a técnica. A imagem do governo brasileiro era ambígua, pois Jango era próximo dos comunistas e da esquerda nacionalista.

Na perspectiva dos EUA, San Tiago Dantas deveria tratar de duas questões de extrema relevância: as críticas de Miguel Arraes, governador de Pernambuco, às ações da Aliança para o Progresso no Nordeste brasileiro; e a desapropriação, sem indenização, da subsidiária da American & Foreign Power pelo governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola.

Durante as negociações em Washington, o governo norte-americano concordaria em prorrogar o pagamento da dívida brasileira e apoiaria a liberação, pelo FMI, de um crédito de US$ 398 milhões. Desse total, porém, apenas US$ 84 milhões poderiam ser usados no curto prazo — o restante ficaria condicionado ao sucesso do programa de estabilização financeira e ao pagamento de indenizações às empresas norte-americanas expropriadas pelo governo do Rio Grande do Sul.

De volta ao Brasil, San Tiago Dantas enfrentaria duras críticas da esquerda, que consideraria excessivas as concessões feitas aos EUA e ao FMI. Uma missão do fundo, em maio, elaboraria um relatório pessimista sobre as chances de sucesso do nosso programa de estabilização financeira.

Em junho, o governo abandonaria o Plano Trienal, e San Tiago Dantas seria substituído por Carvalho Pinto, ex-governador de São Paulo.