1960 26 de julho

Com estandarte medieval, surge a TFP

Sociedade anticomunista leva às ruas jovens preparados para o confronto

O intelectual tradicionalista Plínio Correa de Oliveira funda a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que reúne católicos leigos conservadores em defesa da submissão da sociedade à igreja, do casamento indissolúvel e do direito sagrado à propriedade privada.

O anticomunismo vinha ganhando força, impulsionado pelas tensões da Guerra Fria. Sem vínculo institucional com a igreja católica, a TFP manteria, contudo, estreitos laços com membros importantes da sua estrutura, como dom Geraldo Proença Sigaud (bispo de Jacarezinho, PR) e dom Antônio de Castro Mayer (bispo de Campos, RJ).

O estatuto de movimento leigo lhe daria autonomia em relação à hierarquia católica, liberdade suficiente para que assumisse contornos quase paramilitares. A TFP cooptaria jovens, que seriam internados na organização sob rigoroso controle ideológico e submetidos a treinamentos em artes marciais, tornando-se a entidade coordenadora da luta contrarrevolucionária, anticomunista e avessa à reforma agrária.

Nas ruas, os militantes hasteariam grandes estandartes vermelhos, com símbolos e brasões medievais. Seriam comuns os confrontos entre simpatizantes da esquerda e a sua brigada, que tinha ordens para atacar, jamais recuar.

A entidade atuaria publicando livros e jornais, promovendo campanhas de ruas e coletando assinaturas para suas causas. Todas as atividades visariam à disseminação do anticomunismo, seriam intensificadas no período pré-golpe de 1964 e atingiriam seu auge no regime militar, com 1.500 militantes espalhados por 15 estados brasileiros.

Os membros da organização eram escolhidos mediante rigoroso processo seletivo e passavam a conviver cotidianamente nas casas da entidade, onde não podiam ver  televisão, só liam o que fosse previamente selecionado pela organização, vestiam obrigatoriamente terno e frequentavam diariamente aulas de judô e defesa pessoal.

Publicações como “Catecismo Anticomunista” e “Reforma Agrária, Questão de Consciência” venderam milhares de exemplares por todo o país, esgotando sucessivas edições.

Em 1969, Plínio passaria a assinar uma coluna semanal no jornal “Folha de S.Paulo”, dando ainda mais notoriedade à organização.

No início da década de 1980, contudo, com a ditadura chegando ao fim, a pregação da TFP não encontraria eco no Brasil redemocratizado, e a entidade, já enfraquecida por críticas e deserções, entraria em declínio.

A morte de Plínio Correa, em 1995, abalaria ainda mais a organização, sobretudo por não existir um substituto com o mesmo apelo conservador de seu fundador.  

A TFP sobrevive até hoje, mas desapareceu do cenário político.