1958 Março

Nordestinos fogem da seca e da fome

Ajuda do governo é desviada para os grandes proprietários e fornecedores

Chega ao auge uma das mais graves secas do Nordeste. Ela deixa grande parte da população sertaneja na miséria e aumenta o êxodo de retirantes para outras regiões do país. Ocorrem saques em vários municípios. Os estados mais atingidos são Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Milhares de lavradores dirigem-se para as cidades à procura de emprego, em busca de sobrevivência. Só ao Planalto Central, onde Brasília é construída, já chegaram cinco mil refugiados.

As secas no Brasil têm características discriminatórias, e em 1958 não foi diferente. Num contexto de forte concentração fundiária, as famílias mais pobres, que geralmente produziam culturas alimentares em  pequenas propriedades, eram as mais atingidas, pois não conseguiam estocar alimentos no período de chuvas para sobreviver durante a seca. Já os médios e grandes donos de terras dispunham de meios, na agropecuária ou fora dela, para atravessar longas estiagens, além de relações políticas que garantiam privilégios na distribuição dos recursos públicos.

A seca de 1958 logo se transformaria em calamidade pública. O presidente Juscelino Kubitschek visitaria as regiões mais atingidas e assinaria atos liberando 105 milhões de cruzeiros para os socorros emergenciais, recursos que representariam, porém, apenas a metade do valor da renda perdida naquele ano pelos estados atingidos.

O governo também enviaria ao Nordeste remessas de charque e feijão, e autorizaria a admissão de milhares de flagelados como trabalhadores nas rodovias da região. Açudes seriam construídos para mitigar os efeitos da seca e empregar os atingidos, ao mesmo tempo e que empréstimos seriam liberados para pequenos proprietários de terras e lavradores.

Essas medidas, todavia, teriam pouco efeito: os recursos acabariam drenados pela “indústria da seca”, que envolvia fornecedores e grandes proprietários.

No dia 26 de março, o general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra, denunciaria a JK irregularidades, falhas e desvios na distribuição dos gêneros alimentícios e nos serviços de socorro aos flagelados. No ano seguinte, seria criada a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), diretamente subordinada à Presidência da República, com o objetivo de reduzir as consequências da seca e promover o desenvolvimento do Nordeste.