1962 23 de maio

O cinema brasileiro conquista Cannes

Filme 'O Pagador de Promessas', de Anselmo Duarte, ganha a Palma de Ouro

“O Pagador de Promessas”, filme baseado na peça teatral homônima de Dias Gomes e dirigido por Anselmo Duarte, conquista um dos mais importantes prêmios do cinema, a Palma de Ouro do Festival de Cannes, na França, derrotando obras de diretores consagrados, como “O Anjo Exterminador”, de Luis Buñuel, “O Eclipse”, de Michelangelo Antonioni, “Tempestade sobre Washington”, de Otto Preminger, e “Longa Jornada Noite Adentro”, de Sidney Lumet.

Entre os jurados do Festival de Cannes, estava François Truffaut, cineasta ligado à Nouvelle Vague francesa — já havia dirigido “Os Incompreendidos”, em 1959, e “Jules e Jim: uma Mulher para Dois”, em 1962 — e grande entusiasta do filme brasileiro no festival.

O enredo do filme conta a história de Zé do Burro (Leonardo Villar), camponês que, no desespero para salvar seu burro doente, promete a Iansã, em troca da cura, carregar uma cruz tão pesada como a de Cristo até a igreja de santa Bárbara, em Salvador.

Impedido pelo padre de entrar no templo — pois sua promessa fora feita a uma entidade do candomblé —, Zé do Burro recebe a solidariedade de uma multidão que, como ele, também havia incorporado às suas crenças as religiões africanas.

Ao final, Zé do Burro, morto a bala por um policial que reprimia uma manifestação, é levado pela multidão pregado na cruz que havia carregado.

Tanto na peça quanto no filme, a disputa religiosa é o pano de fundo para uma discussão sobre a dificuldade de integração das camadas populares à vida do país.

Além da Palma de Ouro, “O Pagador de Promessas” levaria ainda o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cartagena (Espanha) e o Golden Gate do Festival de San Francisco (Estados Unidos), como melhor filme e melhor trilha sonora (de Gabriel Migliori). No ano seguinte, seria indicado ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira.