Jornais e revistas 1945-1963

Personagens

Eis alguns personagens importantes:

Antônio Callado

Antônio Callado (1917-1997) nasceu na cidade fluminense de Niterói e foi ficcionista, dramaturgo e jornalista. Formou-se em Direito, mas nunca exerceu a profissão — ainda na faculdade, iniciou carreira jornalística, colaborando com os jornais “Correio da Manhã” e “O Globo”.

Durante a Segunda Guerra, morou em Londres e trabalhou na BBC. De volta ao Brasil, atuou como redator-chefe do “Correio da Manhã”, entre 1954 e 1960, ao mesmo tempo em que escrevia peças de teatro, como “Pedro Mico”, e romances, como “A Madona de Cedro”, ambos de 1957. Fez oposição à ditadura militar instalada em 1964 e, em 1967, publicou um dos principais livros da literatura de resistência, “Quarup”.

Na década de 1970, foi redator do “Jornal do Brasil” e professor em universidades inglesas e norte-americanas. Abandonou o jornalismo em 1974 para dedicar-se à literatura, o que lhe permitiu escrever novos romances, como “Bar Dom Juan” e “Reflexos do Baile”, entre outros.

 

Antônio Maria

Antônio Maria (1921-1964) nasceu no Recife (Pernambuco), mas teve uma forte e marcante atuação na imprensa carioca. Foi repórter, caricaturista, apresentador de TV, locutor de rádio e produtor nos principais meios de comunicação da época.

Começou sua carreira na Rádio Clube de Pernambuco, em 1938, mudando-se em 1947 para o Rio de Janeiro, onde passou a atuar como diretor artístico da Rádio Tupi e a assinar a coluna “Jornal de Antônio Maria” em “O Jornal”, dos Diários Associados. Assumiu a direção de programação da TV Tupi em 1951 e, a partir do ano seguinte, produziu programas humorísticos na Rádio Mayrink Veiga.

Antônio Maria assinou ainda colunas sociais nos jornais “O Globo” e “Ultima Hora”, além de ter atuado como apresentador de TV nos programas “Encontro com Antônio Maria” e “Rio, Eu Gosto de Você”, na TV Rio, a partir de 1957. Entre 1961 e 1964, apresentou o programa de entrevistas “Cadeira Giratória”, ao lado de Otto Lara Resende e David Násser, na TV Tupi.

Antônio Nássara

Antônio Nássara (1910-1996) nasceu no Rio de Janeiro. Largou o curso de Arquitetura na Escola Nacional de Belas-Artes para tornar-se compositor de sambas e marchinhas e caricaturista em jornais. Entre os anos 1920 e 1930 familiarizou-se com a rotina das redações e com a produção de artes gráficas para a imprensa, atuando inicialmente nos jornais “Critica” e “O Globo”. Depois, trabalhou no semanário “Diretrizes” e na revista “O Cruzeiro”, até ser convidado por Samuel Wainer, em 1951, para trabalhar no recém-fundado jornal “Ultima Hora”.

Lá foi paginador do segundo caderno e publicou charges retratando personalidades políticas, como os presidentes Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Seu traço, econômico, explorava as formas geométricas e compunha um retrato humorístico das personalidades. Publicou também desenhos satirizando acontecimentos políticos do período, como a campanha eleitoral de Jânio Quadros, em 1960, cujo símbolo era uma vassoura com a qual ele prometia “varrer a corrupção” do Brasil.

Nássara foi ainda ilustrador de livros e capas de discos. A partir de 1974, já na ditadura militar, passou a colaborar com o jornal alternativo “O Pasquim”. São desse período suas conhecidas charges de personalidades da cultura brasileira, especialmente os grandes nomes da música popular.

Barão de Itararé

Barão de Itararé foi o pseudônimo adotado pelo jornalista gaúcho Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971), que, desde a adolescência, já mostrava enorme talento humorístico, fazendo sofrer, com suas sátiras no jornalzinho “O Capim Seco”, os padres jesuítas do internato em que estudava.

Em 1926, depois de trabalhar no Rio de Janeiro em “O Globo” e em “A Manhã”, Aparício decidiu criar seu próprio jornal: “A Manha” — sem o til, mas com a mesma tipologia e feição gráfica do jornal em que fora empregado. Sem periodicidade fixa, “A Manha” teria como como tônica a sátira e o humor, gêneros em que Apporelly (outro pseudômino de Aparício) já fizera sucesso em “A Manhã”, com os sonetos ridicularizando fatos e personalidades.

Depois da Revolução de 1930, Aparício passou a assinar seus trabalhos como Barão de Itararé, homenagem debochada à famosa batalha decisiva entre as tropas de Getúlio e de Washington Luís nas cercanias de Itararé, na divisão entre Paraná e São Paulo — batalha famosa justamente porque não houve, pois Washington Luís fora deposto na véspera.

Barão de Itararé combateu a ditadura do Estado Novo, tendo sido preso e espancado pela polícia. Com a redemocratização, elegeu-se vereador no Rio de Janeiro pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1946. Seu slogan foi uma piada: "Mais leite! Mais água! Mas menos água no leite!". Em janeiro de 1948, ele e os demais vereadores do PCB foram cassados. Aparício não perdoou e partiu para a gozação no jornal “A Manha”: "Um dia é da caça... os outros da cassação".

Entre as décadas de 1940 e 1950, “A Manha” circulou de maneira irregular até a sua última edição, em 1960, já como um caderno do jornal “Ultima Hora”. O Barão de Itararé continuou colaborando em periódicos, como a revista “Alterosa” e o próprio “Ultima Hora”, até 1963, quando encerrou sua carreira de jornalista.

Carlos Castelo Branco

O piauiense Carlos Castelo Branco (1920-1993) começou sua carreira jornalística bastante cedo, publicando reportagens em jornais estudantis. Anos mais tarde, mudou-se para Belo Horizonte, onde estudou Direito e trabalhou como repórter policial no jornal “O Estado de Minas”. Chegou a abrir um escritório de advocacia, mas logo desistiu da carreira jurídica para se dedicar somente ao jornalismo.

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1945. Na então capital da República, trabalhou inicialmente em “O Jornal”, do grupo Diários Associados, primeiro como secretário de redação e, a partir de 1948, como analista de política em colunas assinadas. Nascia então um dos maiores nomes do jornalismo político nacional. Pelos amigos, era chamado de “Castelinho”. Na década de 1950, colaborou com os jornais “Tribuna da Imprensa”, a “Folha de S.Paulo”, “O Estado de S. Paulo” e “A Noite”. Na revista “O Cruzeiro”, criou a página de política, onde passou a colaborar como colunista fixo.

Em 1960, aceitou o convite de Jânio Quadros para assumir a Secretaria de Imprensa da Presidência da República. Após a renúncia de Jânio, o jornalista passou a assinar a "Coluna do Castelo" e a chefiar a sucursal do “Jornal do Brasil” em Brasília. De 1961 até sua morte, acompanhou os principais acontecimentos políticos do país em sua coluna diária no "JB".

Na juventude, Carlos Castelo Branco escrevera um romance de pouca repercussão, "Arco de Triunfo"; na maturidade, publicou um livro sobre o importante episódio que presenciara, "A Renúncia de Jânio".

Carlos Heitor Cony

Carlos Heitor Cony (1926- ) nasceu no Rio de Janeiro e começou a atuar na imprensa ajudando o pai, Ernesto Cony Filho, no “Jornal do Brasil”. Em 1952, tornou-se redator da Rádio Jornal do Brasil. Pouco depois, publicou seus primeiros romances: “O Ventre”, em 1956, e “A Verdade de Cada Dia”, em 1957. Em 1960 começou a colaborar com o “Correio da Manhã”, escrevendo matérias para o caderno internacional, crônicas sobre política interna e editoriais. Publicou crônicas também no “Jornal do Brasil” e revezou com a poeta Cecília Meireles uma coluna na página Opinião, da “Folha de S.Paulo”, entre 1963 e 1965.

Após o golpe de 1964, combateu a ditadura e transformou sua coluna do “Correio da Manhã” em importante tribuna de denúncia das arbitrariedades do regime. Suas crônicas do período foram reunidas no livro "O Ato e o Fato". Em 1967, lançou "Pessach: a Travessia", romance que reflete a opção de parte da esquerda pela luta armada. Com o fim do “Correio da Manhã”, entrou na revista “Manchete”. Foi preso em 1968 e teve vários de seus trabalhos censurados.

Cony manteve permanente produção literária paralelamente à carreira jornalística, o que o levou à Academia Brasileira de Letras no ano 2000. Seu livro mais conhecido e premiado é "Quase Memória", vencedor do Prêmio Jabuti de 1996. Atualmente é colunista da “Folha de S.Paulo”.

Clarice Lispector

De origem ucraniana, Clarice Lispector (1920-1977) já era uma escritora conhecida e trabalhara como repórter nos jornais “A Noite” e “Diario do Povo” quando começou a escrever nas páginas femininas da grande imprensa, em 1952.

Foi seu amigo Rubem Braga quem a convenceu a atuar profissionalmente nessas seções, que publicavam de receitas culinárias a conselhos amorosos. Clarice aceitou a proposta, mas assinaria seus textos com pseudônimo. Na coluna "Entre mulheres", do jornal “Comício”, ela era então Tereza Quadros; no “Correio da Manhã”, seção Feira de Utilidades, assinava Helen Palmer; e na seção Só para Mulheres, do “Diario da Noite”, seria “ghost writer” da atriz Ilka Soares.

Em seus textos, a escritora subvertia nas entrelinhas os papéis tradicionalmente reservados à mulher pela sociedade brasileira das décadas de 1950 e 1960. Sua atuação jornalística não se limitou, entretanto, às páginas femininas: além da cobertura de eventos políticos nacionais e da Segunda Guerra, nos anos 1940, Clarice passou a publicar, de 1959 até sua morte, contos e crônicas nos periódicos “Senhor”, “Jornal do Brasil”, “Fatos & Fotos” e “Ultima Hora”.

Cláudio Abramo

Cláudio Abramo (1923-1987) nasceu em São Paulo, numa família de trotskistas e anarquistas, o que marcou sua formação intelectual e política. Seus pais, perseguidos pela ditadura do Estado Novo, tiveram uma vida conturbada, sujeita a mudanças frequentes, o que afetou sua educação formal.

A carreira de Cláudio Abramo na imprensa começou na agência de publicidade Arco, da qual migrou para agências de notícias internacionais, como a Interamericana, a Press Praga e a Meridional. Em 1945, era datilógrafo no “Jornal de São Paulo”, à época dirigido pelo militante trotskista Hermínio Sacchetta. Logo se tornou repórter do jornal e redator da seção internacional — foi responsável por revelar o apoio de Luís Carlos Prestes a Getúlio Vargas no final do Estado Novo.

Depois do fechamento do “Jornal de São Paulo”, em 1947, Cláudio Abramo colaborou por algum tempo com “O Estado de S. Paulo”, destacando-se pelas matérias sobre os expurgos de dissidentes do stalinismo nos países do bloco soviético. Entre 1951 e 1952 viveu em Paris, onde frequentou a Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais e teve estreito convívio com Mário Pedrosa, Paulo Emílio Sales Gomes e outros intelectuais brasileiros que lá viviam.

De volta ao Brasil em 1953, assumiu o cargo de secretário de redação de “O Estado de S. Paulo”, que deixaria dez anos mais tarde por divergências político-editorais. Nesse período, Abramo introduziu importantes mudanças gráficas e de conteúdo no jornal, além de ter modificado o sistema de recrutamento de novos profissionais.

Após uma curta experiência como assessor de imprensa do ministro da Fazenda Carvalho Pinto, foi contratado pela “Folha de S.Paulo” como chefe de reportagem, exercendo ali os cargos de secretário-geral (1963-1973) e diretor de redação (1973-1977). Na “Folha”, implantou reformas editoriais importantes: concebeu um formato mais agressivo para a primeira página, criou as páginas de opinião (2 e 3) e estabeleceu regras mais rígidas para a apuração de notícias, iniciativas que inspirariam mudanças em outros veículos brasileiros. Em 1978, passou a coordenar o recém-criado conselho editorial do jornal. Foi perseguido e chegou a ser preso pela ditadura militar, que teria feito pressões por seu afastamento da “Folha de S.Paulo”, em 1979.

Em seguida, com Mino Carta, fundou o “Jornal da República”, de curta existência. Nos anos seguintes, colaborou com a revista “Senhor Vogue” e atuou como correspondente da “Folha de S.Paulo” em Londres (1980-1982) e Paris (1982-1984). De volta ao Brasil, passou a assinar a coluna "São Paulo", na “Folha”, e colaborou com a nova versão da revista “Senhor”, permanecendo ativo até sua morte, em 1987.

David Násser

O paulista David Násser (1917-1980) começou sua carreira jornalística muito jovem, aos 16 anos, como repórter de “O Jornal”, do grupo Diários Associados, no qual ingressara aos 14 como contínuo. De 1938 a 1943, Násser trabalhou no jornal “O Globo”, escrevendo reportagens críticas à ditadura do Estado Novo e ao nazifascismo. Mais tarde retornou aos Diários Associados, chegando a ser um de seus acionistas. Foi nos veículos daquele grupo que sua carreira deslanchou, consagrando-o como um dos mais importantes repórteres brasileiros das décadas de 1950 e 1970.

Em parceria com o fotógrafo Jean Manzon, Násser publicou matérias polêmicas, designadas como “grandes reportagens”, na revista “O Cruzeiro”, sobre os mais variados temas: política, denúncias, cultura, costumes e vida em sociedade. O formato combinava pesquisa de campo, opinião do repórter, pequenas entrevistas e fotografias de alta qualidade. Násser fez amizades na elite política nacional, colecionou glórias e também desafetos, por causa da agressividade de suas matérias.

Nas décadas de 1940 e 1950, David Násser também compôs sambas, tendo feito muito sucesso com a marchinha “Nega do Cabelo Duro”, de 1940, em parceria com Rubens Soares. Escreveu também alguns livros, como “Falta Alguém em Nuremberg”, de 1947, sobre as torturas na polícia do Estado Novo, e “A Face Cruel”, de 1966, sobre o ex-presidente Jânio Quadros.

Deixou os Diários Associados em 1975, com uma carta aberta intitulada "Por que deixei o velho barco", na qual atacava João Calmon, o diretor do grupo. Colaborou com a revista “Manchete” até sua morte, em 1980.

 

Edmar Morel

Edmar Morel (1912-1989) começou sua carreira em jornais do Ceará, onde nasceu. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou nos jornais “O Globo”, “Diario da Noite”, “Diretrizes” e “A Tarde”. Entre 1938 e 1947, foi repórter da revista semanal “O Cruzeiro”, a mais importante do gênero na época.

Em 1951, Samuel Wainer convidou-o para integrar a equipe do seu recém-lançado jornal “Ultima Hora”, onde se dedicou ao jornalismo investigativo. Em 1955, sua série de reportagens sobre as condições dos presídios cariocas fez a tiragem de “Ultima Hora” pular de 12 mil para 330 mil exemplares diários.

Morel destacou-se também por seus livros-reportagem, como "A Revolta da Chibata", de 1959, que consagrou o marinheiro João Cândido como o Almirante Negro. Em "O Golpe Começou em Washington", de 1965, denunciou a participação norte-americana nas conspirações que levaram ao golpe de Estado de 1964.

Após a extinção do “Ultima Hora”, Edmar Morel trabalhou em “O Cruzeiro” e posteriormente em outros veículos, atuando como jornalista até sua morte.

Fortuna

Reginaldo José Azevedo Fortuna (1931-1994) nasceu em São Luís, no Maranhão, e mudou-se para o Rio de Janeiro ainda jovem, em 1947. Na então capital do país, tornou-se caricaturista e jornalista, assinando seus trabalhos com o último sobrenome.

Começou a carreira publicando desenhos, caricaturas e ilustrações em revistas infantis e juvenis como “Tico-Tico”, “Vida Juvenil”, “Sesinho” e “Vida Infantil”. Depois de uma passagem na revista paulista de variedades “A Cigarra”, do grupo Diários Associados, Fortuna integrou a equipe da sofisticada revista “Senhor”. De traço marcado pelo improviso e pela leveza, já na década de 1960 editou, em parceria com o também ilustrador Ziraldo, o caderno de humor da revista “O Cruzeiro”.

Após o golpe de 1964, Fortuna foi diretor de arte da revista “Pif-Paf”, editor do caderno de charges do “Correio da Manhã” e um dos fundadores, em 1969, do jornal alternativo “O Pasquim”. Colaborou ainda com os periódicos “Folha de S.Paulo”, “Enfim”, “Careta”, “Veja” e “Claudia”.

Helio Fernandes

Nascido no Rio de Janeiro, Helio Fernandes (1924- ) foi trabalhar, ainda muito jovem, em “O Cruzeiro”, por indicação do jornalista Millôr Fernandes, seu irmão, que já atuava na revista. Começou recolhendo artigos assinados, rapidamente tornou-se repórter e em 1947 já era diretor de redação.

Deixou “O Cruzeiro” no ano seguinte, após contrariar o dono, Assis Chateaubriand, publicando reportagens favoráveis a uma greve estudantil. Depois, passaria pelos principais órgãos da imprensa brasileira: foi chefe da seção de Esportes do “Diario Carioca” e, em 1951, assumiu a direção da revista “Manchete”, onde ficou 22 meses e promoveu uma reforma radical na publicação. Demitiu-se e foi para a “Tribuna da Imprensa”, onde logo se desentendeu com o dono, Carlos Lacerda, e se demitiu, dando início a uma trajetória política.

Tornou-se diretor da Rádio Mauá, vinculada ao Ministério do Trabalho, a convite do presidente Café Filho. Em 1955 assumiu a assessoria de imprensa da campanha de Juscelino Kubitschek à Presidência da República. Comprou a “Tribuna da Imprensa” em 1962 e manteve a circulação do jornal impresso até 2008, quando se restringiu à versão digital.

Embora tenha apoiado o golpe de 1964, Helio Fernandes logo passou a fazer oposição à ditadura, chegando a ser preso e interrogado. Filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido da oposição no regime militar.

Ibrahim Sued

Carioca, Ibrahim Sued (1924-1995) ingressou no jornalismo como fotógrafo free-lancer de “O Globo”, em meados da década de 1940. Seu primeiro furo aconteceu em 1946, quando fotografou o presidente da UDN, Otávio Mangabeira, beijando a mão do general norte-americano Dwight Eisenhower durante visita ao Brasil. A foto, divulgada como sinal da submissão brasileira aos Estados Unidos, tornou Ibrahim conhecido nacionalmente como fotógrafo.

Nos anos 1950, já era colunista social, publicando sua coluna sobre personalidades da elite carioca em jornais como “Gazeta de Notícias” e “Diario Carioca” e revistas como “Manchete”. A convite de Roberto Marinho, foi para “O Globo”, onde começou a assinar a coluna diária “Reportagem social”, além de atuar como repórter. Entrevistou celebridades internacionais, como o presidente norte-americano John Kennedy e o papa Paulo 6º.

Trocou “O Globo” pelos Diários Associados em 1963, mas, já no ano seguinte, começaria sua carreira na TV Globo, com o programa “Ibrahim Sued Repórter”. Voltou ao jornal de Roberto Marinho em 1968, onde passou a publicar uma coluna social diária. Atuou nas Organizações Globo até morrer.

Jacinto de Thormes

Jacinto de Thormes foi o pseudônimo escolhido por Manuel Antônio “Maneco” Bernardez Müller (1923-2005) para assinar a coluna que o consagraria como jornalista. Com esse nome, emprestado de um personagem do livro “A Cidade e as Serras”, de Eça de Queirós, Maneco entraria para a história como o “pai do colunismo social” no Brasil.

De família rica do Rio de Janeiro, Müller transitava com desenvoltura na elite carioca — um passaporte para a atividade a que se dedicou a partir de 1945, quando publicou, no jornal “Diario Carioca”, a primeira coluna social da imprensa brasileira. Nascia assim Jacinto de Thormes, um colunista que escrevia com alguma ironia, mas com sobriedade sobre personalidades e acontecimentos da chamada “alta sociedade” do Rio de Janeiro.

No final dos anos 1950, Maneco foi trabalhar no “Ultima Hora”, de Samuel Wainer. Ali, dedicou-se também ao jornalismo esportivo, escrevendo sobre futebol e produzindo crônicas urbanas. Depois, trabalhou no “Correio da Manhã” e na revista “O Cruzeiro”.

Jaguar

Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe (1932- ) trabalhava como escriturário no Banco do Brasil, junto com o jornalista Sérgio Porto, quando começou a publicar cartuns na revista “Manchete”, em 1957. Assinando apenas “Jaguar”, logo ficaria conhecido por seu estilo livre de desenhar, marcado por traços irregulares e uma aparente despreocupação com o acabamento e, sobretudo, pelo humor cáustico que empregava na crítica social e política. Nascido no Rio, Jaguar tornou-se um dos mais importantes cartunistas do país quando passou a colaborar com a revista “Senhor”, criada em 1952.

Ao longo da década de 1960, trabalhou também para o jornal “Ultima Hora” e publicou cartuns na “Revista Civilização Brasileira”, na “Tribuna da Imprensa” e no semanário “Pif-Paf”. Combateu a ditadura instalada no país em 1964, integrando o grupo de jornalistas e artistas gráficos que, em 1969, fundou o jornal alternativo “O Pasquim”.

Em 1970, suas charges, consideradas “subversivas” pelas autoridades, o levaram à prisão. Ainda hoje Jaguar atua como chargista e cronista em veículos de imprensa.

Janio de Freitas

Fluminense de Niterói, Janio Sérgio de Freitas Cunha (1932- ) queria ser aviador civil, mas, por causa de um acidente jogando futebol, desistiu da carreira. Em 1953, começou a publicar desenhos na “Revista do Diario Carioca”, onde trabalhou também como diagramador e repórter. Em 1955, seguiu para a revista “Manchete”, atuando como fotógrafo e, depois, redator-chefe.

A convite de Odilo Costa, filho, transferiu-se em 1957 para o “Jornal do Brasil”, assumindo a editoria de Esportes. Ao lado de Reinaldo Jardim, editor do segundo caderno, seria um dos principais auxiliares de Odilo na implantação da reforma que modernizou o "JB", ao assumir o cargo de editor-geral em 1958. Ao mesmo tempo, colaborava com a revista “O Cruzeiro” e com a Rádio Jornal do Brasil.

Janio deixou o comando do "JB" em 1963 e, após uma rápida passagem pelo “Correio da Manhã”, tornou-se diretor-geral do jornal “Ultima Hora”. Prosseguiu com sua carreira jornalística, atuando nos principais veículos do país até os anos 1980, quando passou a assinar a coluna que leva seu nome na “Folha de S.Paulo”, publicada até hoje.

Jean Manzon

Jean Manzon (1915-1990) nasceu em Paris, mas foi no Brasil que alcançou grande sucesso como fotojornalista e produtor audiovisual. Ainda na França, havia trabalhado nas revistas “Paris-soir” e “Paris Match”. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1940, tornando-se diretor da seção de fotografia e cinema do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), órgão de promoção do governo e de censura à imprensa durante o Estado Novo. Ao mesmo tempo, começou a trabalhar no grupo Diários Associados, projetando-se nacionalmente com suas fotorreportagens na revista “O Cruzeiro”.

De 1944 a 1951, Jean Manzon trabalhou em parceria com o jornalista David Násser em matérias — algumas delas, polêmicas — sobre política nacional, cultura e vida em sociedade. Seu fotojornalismo foi influenciado pela técnica de montagem das vanguardas artísticas da década de 1950 — muitas de suas fotografias nas matérias de David Násser não eram flagrantes, mas posadas ou encenadas. Teve também o mérito de se embrenhar pelo Brasil profundo de então, sendo um dos primeiros fotógrafos, ao lado de Henri Ballot e José Pinto, a revelar ao mundo imagens dos índios do Xingu, sua cultura e modo de vida.

Jean Manzon trabalhou também na revista “Manchete” e em 1952 fundou uma produtora de cinema que ficaria conhecida pela produção de documentários para o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipês), instituição que contribuiu para o golpe de 1964. Retornou à França, onde viveu entre 1968 e 1972, trabalhando como diretor da “Paris Match”.

João Saldanha

João Saldanha (1917-1990) formou-se em Direito, mas seu interesse maior eram o jornalismo e o futebol. Gaúcho, também gostava de política e, desde jovem, militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Sua estreia na imprensa foi como radiorrepórter na Rádio Guanabara, em 1960. Tornou-se logo um importante cronista esportivo, tanto no rádio como na imprensa escrita. Depois de passar pela Rádio Nacional, tornou-se apresentador, nos anos 1970, de um programa na Rádio Globo sobre os bastidores do futebol — “Dois Minutos com João Saldanha”. Na sequência, publicou colunas regulares nos jornais “Ultima Hora”, “O Globo” e “Jornal do Brasil”, com suas críticas polêmicas e severas dirigidas a técnicos, jogadores e dirigentes.

Além de jornalista, João Saldanha foi técnico de futebol, tendo comandado a Seleção Brasileira entre 1969 e 1970, classificando o time para a Copa do Mundo do México. Às vésperas do Mundial, acabou demitido por motivo não esclarecido — ligado às suas convicções políticas. Seguiu como jornalista e militante comunista até sua morte, em 1990.

Joel Silveira

Joel Silveira (1918-2007) nasceu em Sergipe e, ainda estudante, criou o periódico estudantil “A Voz do Ateneu”. Militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), tornou-se secretário do jornal do partido, “A Voz Operária”.

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1937 para estudar Direito, mas não chegou a concluir o curso, dedicando-se ao jornalismo. Na então capital do país, colaborou com diferentes veículos, como “Dom Casmurro”, “Carioca”, “Vamos Ler” e a revista “Diretrizes”, fundada por Samuel Wainer. Após o fechamento da revista, em 1944, Joel Silveira foi contratado pelos Diários Associados e enviado à Itália para cobrir a participação da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra.

De volta ao Brasil, atuou como repórter e colunista do “Diario de Noticias” e no jornal “Ultima Hora”. Foi um dos editores da “Revista Nacional” e redator-chefe de “O Mundo Ilustrado”. Paralelamente, publicou romances, contos, crônicas e novelas.

José Carlos Oliveira

José Carlos Oliveira (1934-1986) nasceu em Vitória, Espírito Santo, e mudou-se em 1952 para o Rio de Janeiro, onde se tornaria um dos principais cronistas da imprensa diária brasileira entre as décadas de 1960 e 1980. 

No “Jornal do Brasil”, de 1961 e 1984, publicou crônicas sobre a boemia carioca e o cotidiano nos bairros de Ipanema e Leblon. Criticou os ataques à liberdade de expressão durante a ditadura, tendo sido o responsável pela invenção do termo “patetocracia”, em referência ao recrudescimento da repressão policial e da censura em 1968. Conhecido como Carlinhos Oliveira, tinha nessa época um lugar reservado no Antônio’s, bar carioca frequentado por intelectuais e artistas como Vinícius de Moraes, Carlos Lyra e Gláuber Rocha. 

Além dos textos para a imprensa diária —reunidos no livro "Os Olhos Dourados do Ódio", de 1962 —, publicou também romances, como "Terror e Êxtase", de 1978.

José Maria Rabelo

O mineiro José Maria Rabelo (1928- ) era estudante em Belo Horizonte e trabalhava no “Jornal do Commercio” quando fundou, com o amigo Euro Arantes, o semanário “Binômio”, em 1952. O periódico, um dos marcos da imprensa independente no Brasil, publicava reportagens debochadas sobre o então governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, e outros políticos locais. 

Com o fechamento do jornal, após o golpe de 1964, Rabelo partiu para o exílio e só voltou ao Brasil na década de 1980. Desde então, tem colaborado com diferentes veículos e se dedicado à defesa do direto à informação e da democratização das comunicações.

Lan 

Lanfranco Aldo Riccardo Vaselli Cortellini Rossi (1925- ) nasceu na Itália. Passou parte da infância no Brasil, quando seu pai, músico, tocou na Orquestra Sinfônica de São Paulo. Morou também no Uruguai e na Argentina, até que, na década de 1950, fixou-se no Brasil. Nesse período, atuou como caricaturista em importantes veículos, como o jornal “El Pais” e a revista “Mundo Uruguayo”, do Uruguai, e “El Mundo”, jornal argentino. 

Em 1952, durante visita ao Brasil, Lan foi convidado por Samuel Wainer para trabalhar no recém-fundado jornal “Ultima Hora”, do Rio de Janeiro. Passou então a publicar caricaturas políticas que fizeram grande sucesso — uma das mais conhecidas representa Carlos Lacerda, o maior adversário de Wainer e do presidente Vargas, como um corvo. 

Após sair do “Ultima Hora", Lan trabalhou de 1955 a 1957 no jornal “O Globo” e, depois, passou a colaborar com “O Estado de S. Paulo”. Em 1962, foi convidado a ilustrar uma página diária do “Jornal do Brasil” e lá ficaria por 33 anos. São dessa época suas famosas caricaturas de importantes nomes da Bossa Nova, como Tom Jobim e Carlos Lyra, e de cantores e compositores que participaram dos festivais da canção dos anos 1960, como Chico Buarque e Caetano Veloso. 

Seu traço característico ajudou a construir uma imagem do Brasil no exterior. Nele se destacam as curvas com que representava as mulatas e a paisagem carioca. Hoje, Lan produz charges de crítica de costumes para veículos diversos.

Mário Filho

Mário Rodrigues Filho (1908-1966) nasceu em Recife, Pernambuco, numa família de jornalistas. Como seu irmão, o jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, era filho de Mário Rodrigues, fundador dos jornais “Critica” e “A Manhã”, onde ainda jovem começou a trabalhar como repórter. 

Dedicou-se ao jornalismo esportivo, especialmente à cobertura do futebol. Em 1931 fundou o jornal “Mundo Sportivo”. No mesmo ano, em sociedade com Roberto Marinho, de quem era amigo, comprou o “Jornal dos Sports”. Trabalhou posteriormente em “O Globo” e na “Ultima Hora”. 

Criou várias expressões que se tornariam corriqueiras na linguagem do futebol, como “Flá-Flu”, referência aos jogos entre Flamengo e Fluminense. Escreveu livros como "O Negro no Futebol Brasileiro", de 1947, e "Viagem em Torno de Pelé", de 1963, nos quais apontou a miscigenação como um dos fatores do talento e do gosto dos brasileiros pelo futebol. 

Mário Filho foi um dos maiores defensores da construção de um estádio que deveria ser o maior do mundo, na região do Maracanã. Inaugurado na Copa do Mundo de 1950, seria posteriormente batizado com seu nome. 

Morreu de ataque cardíaco, no auge da carreira, depois de cobrir a Copa do Mundo de 1966.

Millôr Fernandes

Millôr Viola Fernandes (1923-2012) nasceu no Rio de Janeiro e começou a trabalhar na imprensa já aos 15 anos, ao ingressar como contínuo na revista “O Cruzeiro”, onde logo seria promovido a repaginador. Nas décadas de 1930 e 1940, fez traduções e ilustrações para outros veículos dos Diários Associados, como as revistas “O Guri” e “A Cigarra”. Sob o pseudônimo de Vão Gogo, que passou a usar em 1945, criou um quadro humorístico que fez sucesso em “O Cruzeiro” e foi publicado pela revista até 1962. 

Millôr teve uma carreira longa e diversificada: além dos textos e das ilustrações de humor, escreveu e traduziu peças e livros. Seu jeito irônico, cáustico, iconoclasta e debochado lhe rendeu a demissão dos Diários Associados num episódio tempestuoso. Foi contratado em seguida pelo “Correio da Manhã”, mas deixou o jornal logo depois do golpe de 1964 para dedicar-se à criação da revista “Pif-Paf”. Apesar de ter durado apenas oito edições, “Pif-Paf” foi um marco na imprensa alternativa e independente, por seu pioneirismo. 

Em seguida, Millôr começou a colaborar com o jornal português “Diário Popular”, uma parceria que duraria dez anos. Nesse período, foi apresentador de TV e escreveu o musical "Liberdade, Liberdade", uma peça de resistência à ditadura, encenada com grande sucesso no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro. 

Em 1968, deu início a sua longa colaboração com a revista “Veja”, do grupo Abril. Nesse ano, nasceu o tabloide alternativo “O Pasquim”. Embora Millôr não tivesse integrado seu núcleo fundador, que teve a revista “Pif-Paf” como fonte de inspiração, tornou-se seu colaborador ativo e um dos esteios do semanário, que combatia a ditadura com humor e picardia. Assumiu a presidência do jornal em 1972, salvando-o de uma crise financeira, mas afastou-se em 1975 por divergências internas. 

Entre as décadas de 1980 e 2000, colaborou com diferentes veículos da grande imprensa, como o “Jornal do Brasil” e a “Folha de S.Paulo”.

Otto Lara Resende

Otto Lara Resende (1922-1992), mineiro de São João del-Rei, foi jornalista, advogado e cronista. Ainda jovem, mudou-se para Belo Horizonte e começou sua carreira no jornal católico “O Diário”, publicando críticas literárias. Logo tornou-se editor do suplemento literário de “O Estado de Minas” e formou um quarteto com os amigos escritores Hélio Pellegrino, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos. 

Depois de se formar em Direito, Otto mudou-se em 1945 para o Rio de Janeiro, onde trabalhou nos jornais “Diario de Noticias”, “O Globo”, “Diario Carioca”, “Correio da Manhã”, “Ultima Hora” e “Jornal do Brasil”, além da revista “Manchete” e TV Globo, desempenhando diferentes tarefas. Em 1957, a convite do Itamaraty, tornou-se adido cultural do Brasil na Bélgica, país onde ficou até 1960, quando retornou à redação da “Manchete”. Nessa época, colaborou também com as revistas “Alterosa” e “Fatos & Fotos”. 

Após o golpe de 1964, participou da implantação da TV Globo e foi morar em Portugal, onde exerceu o cargo de adido cultural da embaixada brasileira. Nos anos 1970, assumiu a direção do “Jornal do Brasil”. Entre 1991 e 1992 escreveu uma coluna em forma de crônica na “Folha de S.Paulo”. 

Otto Lara Resende foi membro da Academia Brasileira de Letras e deixou extensa obra literária, que inclui o romance "O Braço Direito" e os livros de contos "O Lado Humano", "Boca do Inferno", "O Retrato na Gaveta" e "As Pompas do Mundo".

Otto Maria Carpeaux

Otto Maria Karpfen (1900-1978) nasceu na Áustria e formou-se em Filosofia e Letras pela Universidade de Viena, além de ter estudado matemática e política. Dedicou-se à crítica literária e ao jornalismo, primeiro em seu país natal e em várias capitais europeias até chegar à Bélgica, onde se refugiou em 1938 da perseguição nazista. 

Com o início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, Carpeaux e sua mulher, a cantora lírica Helena Carpeaux — de quem adotaria o sobrenome — partiram para um novo exílio: o Brasil. Aqui Otto passou por grandes dificuldades, pois não falava português e tinha dificuldades para atuar profissionalmente. Seu primeiro emprego na imprensa brasileira foi como crítico literário no “Correio da Manhã”. Aprendeu rapidamente a língua portuguesa e, ainda nos anos 1940, começou a publicar ensaios sobre a literatura brasileira, além de exercer a função de diretor da biblioteca da Fundação Getúlio Vargas. 

Em 1950, tornou-se redator e editorialista do jornal “Correio da Manhã”, escrevendo também a coluna “Livros na mesa”. Colaborou com vários suplementos literários da imprensa brasileira durante as décadas de 1950 e 1960. Sua produção teórica também foi vasta e consistente. Ainda em 1947 publicou sua importante "História da Literatura Ocidental", na qual analisa a obra de mais de oito mil escritores. Em 1951 foi a vez da "Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira", em que organiza e classifica, em ordem cronológica, a obra de mais de 170 escritores brasileiros. 

Deixou de atuar na imprensa após a crise do “Correio da Manhã”, em decorrência dos conflitos com a ditadura e da morte de seu proprietário, Paulo Bittencourt.

Paulo Francis

Franz Paul da Matta Heilborn (1930-1997) começou sua carreira nos anos 1950 como ator e diretor de teatro, tendo trabalhado no Teatro do Estudante do Brasil e no Teatro Brasileiro de Comédia — vem dessa época o nome Paulo Francis, que passou a adotar. Em 1958, deixou a carreira teatral e firmou-se como crítico de teatro, assinando coluna sobre o tema no “Diario Carioca”. Paulo foi um dos fundadores do Círculo Independente de Críticos Teatrais do Rio de Janeiro, mas seu estilo ácido acabou lhe rendendo inúmeros desafetos. 

Logo Francis ampliou e diversificou sua atuação como jornalista, passando a escrever também sobre televisão e política no jornal “Ultima Hora”. Editou a revista “Senhor” e dirigiu o caderno de cultura do “Correio da Manhã”. Ante a ditadura militar, manteve uma atitude crítica, especialmente em seus textos para “O Pasquim”, pelos quais foi preso em quatro ocasiões. 

Em 1970, Paulo Francis mudou-se para os Estados Unidos e foi correspondente internacional da “Folha de S.Paulo” e, depois, de “O Estado de S. Paulo”. Já rompido com os ideais de esquerda da juventude, trabalhou como comentarista para os telejornais da TV Globo, de 1979 até sua morte.

Péricles

Péricles de Andrade Maranhão (1924-1961), mais conhecido como Péricles, nasceu no Recife e fez sua carreira como cartunista nos periódicos do grupo Diários Associados. 

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1942 e passou a publicar tiras em “O Guri” — gibi quinzenal que acompanhava o “Diario da Noite” — e na revista “A Cigarra”, onde lançou seu personagem Oliveira Trapalhão. A partir de 1945, ilustrou os textos de Millôr Fernandes na seção “Pif-Paf”, de “O Cruzeiro”. 

Péricles se tornaria nacionalmente conhecido por suas tiras humorísticas de um dos personagens de maior sucesso do desenho brasileiro, o Amigo da Onça. Embora afirmasse detestar sua criação, Péricles continuou publicando as histórias do Amigo da Onça até sua morte, em 1961.

Roberto Drummond

Roberto Drummond (1933-2002) nasceu em Minas Gerais e começou a escrever contos e novelas muito jovem, aos 13 anos. Na década de 1950, abandonou os estudos para se dedicar ao jornalismo. 

Trabalhou como repórter na “Folha de Minas” e depois integrou a equipe do alternativo “Binômio”, criado em 1952. Colaborou também com a sucursal mineira do jornal “Ultima Hora”, de Samuel Wainer, e assumiu a direção da revista “Alterosa” em 1961, sendo o responsável pela reforma editorial do periódico. Transferiu-se para o Rio de Janeiro, trabalhando em 1964 e 1965 no “Jornal do Brasil”. Retornou a Belo Horizonte e passou a assinar, no jornal “O Estado de Minas”, a coluna esportiva “Bola na marca”. 

A partir dos anos 1970, dedicou-se também à literatura, buscando incorporar referências do mundo pop às suas histórias. A estreia foi em 1975, com “A Morte de D. J. em Paris”, livro de contos que lhe valeu o prêmio Jabuti de autor revelação. Seu livro de maior sucesso foi "Hilda Furacão", de 1991, mais tarde transformado em minissérie pela TV Globo.

Rubem Braga

Rubem Braga (1913-1990) começou sua carreira literária nos anos 1920, publicando crônicas no jornal “Correio do Sul”, da cidade capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, onde nasceu. Chegou a formar-se em Direito em Belo Horizonte, mas optou pela carreira de jornalista. 

Nas décadas de 1930 e 1940, trabalhou em importantes jornais, como “Diário da Tarde” (Belo Horizonte), “Diario de S.Paulo” (São Paulo), “Diario de Pernambuco” (Recife), “O Jornal” e “A Manhã” (Rio de Janeiro). Suas crônicas tinham a clareza e a precisão de textos jornalísticos e a elegância dos textos literários. Em 1936, lançou seu primeiro livro de crônicas, "O Conde e o Passarinho", e fundou em São Paulo a revista “Problemas”, que o levou à prisão pela polícia do Estado Novo. 

Nessa mesma época, a serviço do “Diario Carioca”, foi à Europa cobrir as manobras das tropas brasileiras na Segunda Guerra Mundial. Após o fim do conflito, trabalhou por algum tempo como correspondente internacional — na Argentina, em 1946, para o “Diario Carioca”; na França, em 1947, para “O Globo”; e em diferentes bases europeias, entre 1950 e 1952, para o “Correio da Manhã”. 

Por indicação do presidente Jânio Quadros, teve uma rápida passagem pela vida diplomática, atuando como embaixador no Marrocos. De volta ao Brasil, colaborou com vários veículos e trabalhou na TV Globo até sua morte.

Samuel Wainer

Samuel Wainer (1912-1980) nasceu em São Paulo e formou-se em Farmácia, mas ainda estudante começou a trabalhar como repórter do “Diario de Noticias”, no Rio de Janeiro. Em 1937 fundou o semanário oposicionista “Diretrizes", que teve várias edições apreendidas e até o suprimento de papel cortado pelo Estado Novo, numa época em que o governo controlava a importação e fixava cotas de acesso ao insumo. Wainer então exilou-se no Chile e depois nos Estados Unidos, onde trabalhou como correspondente de “O Globo”.

Com a redemocratização de 1945, Wainer voltou ao Brasil e relançou “Diretrizes”, mas vendeu-o dois anos depois, passando a trabalhar para os Diários Associados. Em fevereiro de 1949, durante a campanha para a sucessão do presidente Eurico Dutra, entrevistou Getúlio Vargas, candidato pelo PTB. "Voltarei como líder de massas", anunciou o presidente deposto. Wainer foi o único repórter a cobrir sua campanha, e eles acabaram amigos. Eleito, Getúlio avaliou que precisava de um jornal aliado para enfrentar a artilharia udenista do resto da imprensa. Propôs então o desafio a Wainer, que o aceitou e, em 1951, fundou o “Ultima Hora”, claramente alinhado ao getulismo. Em seis meses, o jornal já seria o vespertino mais vendido da capital federal e, no ano seguinte, chegaria a São Paulo. 

Não tardou para que os adversários de Getúlio, tendo à frente Carlos Lacerda e seu jornal “Tribuna da Imprensa”, desfechassem uma campanha violentíssima contra Wainer, atribuindo a fundação do “Ultima Hora” a empréstimos obtidos ilegalmente do Banco do Brasil. Lacerda chegou a acusar Wainer de não ser brasileiro nato, pois teria nascido na Bessarábia (região da Europa Oriental) e forjara uma certidão de nascimento para poder ser dono de um veículo de comunicação no Brasil —  em 1953, o Congresso chegou a abrir uma CPI para apurar as denúncias. No auge da crise de 1954, Getúlio sugeriu-lhe uma manchete: "Só morto sairei do Catete". E foi com ela que o “Ultima Hora” circulou em 24 de agosto, dia do suicídio de Getúlio, e vendeu 800 mil exemplares, enquanto o povo depredava as sedes dos jornais que vinham atacado o presidente. Wainer manteve seu jornal alinhado ao trabalhismo, combateu o governo de Café Filho e apoiou a candidatura de Juscelino Kubitschek. Na crise de 1961, apoiou a posse de João Goulart e depois as Reformas de Base. 

Com o golpe de 1964, a redação do “Ultima Hora” foi invadida, e Wainer, com os direitos políticos cassados, exilou-se. Voltou ao Brasil em 1967 e reassumiu o comando do jornal, mas as pressões da ditadura o levaram a vendê-lo. Trabalhou como jornalista até sua morte, em 1980.

Sérgio Porto

Sérgio Porto (1923-1968) começou sua carreira na imprensa na década de 1940, colaborando com publicações diversas, como “Manchete”, “Fatos & Fotos”, “O Cruzeiro”, “O Jornal” e “Tribuna da Imprensa”. Mas foi no jornal “Diario Carioca” que criou o pseudônimo que o tornaria conhecido nacionalmente: Stanislaw Ponte Preta, inspirado no personagem Serafim Ponte Grande, do escritor modernista Oswald de Andrade. 

Durante a década de 1950, Sérgio assinou, no jornal “Ultima Hora”, uma coluna chamada “Reportagem de bolso”. Escreveu ainda sobre futebol e música brasileira, além de ter sido radialista e compositor. Seu agudo senso crítico e seu humor refinado e mordaz garantiram-lhe uma posição singular na imprensa de seu tempo. 

Após o golpe de 1964, fez sucesso com os dois volumes da série "Febeapá — Festival de Besteiras que Assola o País", libelos bem-humorados contra o autoritarismo e o obscurantismo do regime.