1958 janeiro

Faoro expõe os donos do poder

Advogado escreve obra que se tornaria um clássico da sociologia do Brasil

A editora Globo, de Porto Alegre, lança a obra “Os Donos do Poder: Formação do Patronato Político Brasileiro”, escrita pelo jovem advogado gaúcho Raymundo Faoro, com 32 anos. A obra toma emprestada a teoria do alemão Max Weber para traçar o perfil do capitalismo brasileiro: um Estado patrimonialista, dominado por um estamento — os chamados “donos do poder”—, e que não se confunde com a Nação.

O livro, que se tornaria um clássico das ciências sociais brasileiras, ganharia o prêmio José Veríssimo, da Associação Brasileira de Letras (ABL).

Ao analisar a formação histórica do Brasil, Raymundo Faoro volta-se para a matriz histórica portuguesa iniciada com a Revolução de Avis, no século 14, e transferida para o Brasil com a chegada dos portugueses em 1500.

Segundo o autor, começou nesse momento, e se estendeu por toda a história luso-brasileira, o domínio dos negócios do Estado por uma camada político-social que fazia do poder estatal a sua propriedade: o estamento, isto é, os “donos do poder”.

Em oposição ao modelo capitalista que se firmou na Europa com o início da era moderna, formou-se em Portugal e no Brasil um capitalismo politicamente orientado e um Estado patrimonialista caracterizados por um tipo de mando centralizado, hierarquizado, governado pelo estamento e marcado pelo providencialismo estatal. No período colonial, o Estado metropolitano sufocava a colônia; no pós-Independência, o estamento domina o Estado nacional e oprime a nação, impedida de expressar seus interesses particulares.

Ainda que admita dois momentos de enfraquecimento do poder patrimonial do estamento (o período Regencial e a Primeira República), Faoro afirma a capacidade desse estrato político-social de se adaptar às novas conjunturas.

Criticada pela esquerda por desprezar a análise de classes, “Os Donos do Poder” conquistaria um público ainda mais vasto no lançamento de sua 2ª edição, em 1975, quando Faoro ocupava a presidência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e tinha um importante papel na resistência à ditadura militar. A casta dos donos do poder seria identificada, então, com o poder militar, que ocupava o poder desde 1964.

A reflexão de Faoro sobre as elites brasileiras contribuiria decisivamente para o país entender seu passado e refletir sobre seu presente e futuro, ao lado de outras obras importantes como as de Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior e Gilberto Freyre.