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Cordel canta utopia do nordestino

‘Viagem a São Saruê’ fala de um país sem pobreza e com educação universal

Começa a circular em Campina Grande, na Paraíba, o corde, "Viagem a São Saruê". De autoria do poeta popular Manuel Camilo dos Santos, o cordel fala das terras fantásticas de São Saruê, onde abundam água e comida e todos sabem ler e contar de nascença.

O nome do país imaginário deriva de um ditado popular nordestino — “Em São Saruê o feijão brota sem chovê”. Segundo o autor, o folheto fora escrito em menos de duas horas, em cima do joelho. Não imaginava ele que seus versos se tornariam um dos maiores sucessos e um marco na literatura de cordel.

Entre os inúmeros admiradores de “Viagem a São Saruê”, estariam os escritores Carlos Drummond de Andrade e Orígenes Lessa — que o comparou a “Vou-me Embora pra Pasárgada”, de Manuel Bandeira.

Desde a década de 1940, seus cordéis já eram muito populares na região. Em 1942, Manuel Camilo instalou em Guarabira (PB) a Tipografia e Folhetaria Santos, que publicava folhetos, livros e almanaques astrológicos. O negócio prosperou e, em 1957, já com novos equipamentos, a gráfica se mudaria para Campina Grande, onde seria rebatizada de A Estrella da Poesia.

A literatura de cordel é uma das mais importantes expressões da cultura popular do Nordeste brasileiro. Seus versos, em linguagem próxima do falar cotidiano, costumam trazer ricas histórias sobre a dura realidade no sertão do Nordeste. Geralmente, os livretos são ilustrados com xilogravuras e, não sem motivo, chamados de “jornal dos pobres”. “Viagem a São Saruê” dá vazão aos sonhos do nordestino e expressa seu desejo de superar a fome e a pobreza.

Em 1971, o cineasta e documentarista brasileiro Vladimir Carvalho se inspiraria no cordel de Manuel Camilo dos Santos para criar o filme “O País de São Saruê”, que ficaria até 1979 censurado pela ditadura. Gravado em Sousa (PB), região do Polígono das Secas, ele documenta as dificuldades da vida no sertão.