1989 15 de novembro

Finalmente, eleições diretas para presidente

Vinte e dois candidatos concorrem à primeira eleição presidencial direta em 29 anos

Os brasileiros vão às urnas eleger pelo voto direto, depois de 29 anos, o presidente da República. Comparado à última eleição presidencial direta, o Brasil era um país mais moderno, mas a desigualdade social tornara-se muito mais expressiva do que no começo dos anos 1960. A hiperinflação assombrava a década de 1980, contribuindo para a insatisfação da população. Nesse cenário, os grupos políticos tradicionais foram rejeitados pelo eleitorado.

Nas eleições presidenciais de 1989, destacavam-se duas personalidades que, partindo de projetos políticos antagônicos, procuraram representar propostas de mudança social. De um lado, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, metalúrgico que despontou como liderança política nos movimentos sindicais do ABC paulista. Lula participou ativamente dos movimentos pela redemocratização e tinha sido eleito deputado federal em 1986 com a maior votação até então obtida por um candidato à Câmara dos Deputados.

De outro, Fernando Collor de Mello, representante do PRN, prometendo uma “caçada aos marajás” e modernização política. Governador de Alagoas eleito pelo PMDB, Collor era representante de uma tradicional oligarquia política do seu Estado. Durante a ditadura, foi membro da Arena e do PDS, legendas que garantiram a sustentação política dos governos militares. Em 1988, deixou o PMDB para se filiar ao PRN e concorrer às eleições presidenciais.

Durante a campanha do segundo turno, Collor recebeu o apoio da Rede Globo, atraindo os setores conservadores assustados com o crescimento eleitoral de Lula. O candidato do PT, no segundo turno, praticamente triplicou seu número de eleitores. Sua campanha ganhou força na medida em que seus comícios se espalhavam pelos principais centros urbanos do país. Entretanto, não foi suficiente. Collor venceu a disputa com 53% dos votos válidos contra 47% de Lula.

Em meio à polarização da disputa, o candidato do PSDB, Mário Covas, procurou oferecer ao eleitorado uma terceira via. Eleito senador pelo PMDB de São Paulo, até aquele ano tinha sido o parlamentar mais votado da história do Brasil. Covas desempenhou um papel ativo na Assembleia Constituinte. Em 1988, depois de aprovado o quinto ano de mandato para José Sarney com apoio do PMDB, rompeu com o partido. Junto de Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Franco Montoro fundou o PSDB, pelo qual concorreu às eleições.

Leonel Brizola (PDT) conquistou votações expressivas no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, porém insuficientes para que se mantivesse na disputa. O candidato ficou fora do segundo turno por 450 mil votos a menos que Lula. Declarou seu apoio ao petista e, em uma demonstração de liderança política, conduziu a transferência maciça de votos de seu eleitorado para Lula.

Ulysses Guimarães (PMDB) baseou sua campanha no trabalho realizado na presidência da Assembleia Constituinte. Era o candidato mais experiente naquelas eleições. Durante a ditadura, foi um ferrenho opositor ao regime militar. Em 1984, desempenhou um papel fundamental durante a campanha pelas Diretas-Já.  Nesse período, tornou-se um dos homens públicos mais respeitados do país, o que lhe garantiu a liderança na elaboração da nova Constituição.

O candidato do PDS, Paulo Maluf alcançou pequena margem de votos, apesar de ter em sua carreira política acumulado vitórias importantes em São Paulo. Apoiado pelos militares, foi candidato à Presidência da República em 1985, tendo sido derrotado por Tancredo Neves nas eleições indiretas realizadas no Colégio Eleitoral.

No total, 22 chapas disputaram a eleição de 1989. Entre as candidaturas dos chamados “partidos nanicos”, Enéas Carneiro (Prona) foi o que alcançou maior repercussão.