Ligas Camponesas x indústria da seca

Durante todo o século 20, a seca continuaria a afetar a paisagem natural e humana do Nordeste. As ações emergenciais dos governos beneficiavam especialmente os grandes proprietários rurais, uma vez que a construção de açudes e dutos d’água se dava em seus latifúndios. Os coronéis lucravam também financeira e eleitoralmente com a distribuição de alimentos enviados pelo governo. Via de regra, verbas e víveres eram desviados. Os latifundiários empregavam parte da população a salários ínfimos, alimentando o que ficaria instituído como “indústria da seca”, em expressão do economista Celso Furtado. 

Contra a cultura do coronelismo político e do latifúndio ergueram-se, em 1955, as Ligas Camponesas, organizações formadas por trabalhadores rurais que defendiam a reforma agrária e melhores condições de trabalho e vida no campo, especialmente no Nordeste. As Ligas nasceram em Pernambuco, tendo como principal liderança Francisco Julião, e depois se proliferaram pelos estados da Paraíba, Rio de Janeiro e Goiás. Foram fortemente combatidas e desmobilizadas, a partir de 1964, com a implantação do regime militar no Brasil.

Em 1959, durante o governo Jucelino Kubitschek, foi criada a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), diretamente subordinada à Presidência da República, com o objetivo de atuar in loco, minimizando as consequências da seca e promovendo o desenvolvimento do Nordeste. Com o golpe militar de 1964, a Sudene perdeu autonomia e recursos, desviando-se de seu objetivo.

Tomado o poder, a ditadura militar escondeu a fome sob o manto do ufanismo. Entre os anos 1930 e o final da década de 1980, o Estado atribuía a fome ao problema da intermediação – e, para enfrentá-lo, recorria à regulação dos preços dos alimentos e ao controle da oferta. 

Os efeitos da seca eram combatidos por meios paliativos, como as frentes de emergência. Foram raras as ações concretas de estado. Destaca-se no período a criação da rede Somar, com mais de 100 estabelecimentos varejistas ao redor do país, para venda direta de alimentos à população de baixa renda.