Estado Nacional, mas sem democracia

A Revolução de 1930 pôs fim à política do café com leite, em que São Paulo e Minas se revezavam no comando do país, e à política dos governadores, que garantia às oligarquias locais o poder absoluto nos estados. Abriu um período marcado por importantes transformações.

Transformações na economia: construção da siderúrgica de Volta Redonda, nacionalização das águas e recursos minerais, fundação da Vale do Rio Doce. Assentaram-se as bases para a forte industrialização das décadas seguintes.

Transformações no mundo do trabalho: salário mínimo, jornada de oito horas, carteira de trabalho, criação dos institutos de previdência social, da CLT e do Ministério do Trabalho. A questão social tornou-se objeto de políticas públicas civilizatórias.

Transformações nas instituições do Estado: direito de voto das mulheres, políticas nacionais de saúde e educação, fundação de universidades e escolas técnicas, criação de instituições públicas profissionais e modernas.

Mas o período foi marcado também por agudas radicalizações políticas e pela ditadura do Estado Novo. São Paulo levantou-se contra o governo provisório de Vargas. O país viveu quatro meses de uma sangrenta guerra civil, que terminou com a derrota dos paulistas. Nos anos seguintes, socialistas e comunistas, de um lado, e integralistas, de outro, organizaram sublevações armadas com o objetivo de tomar o poder. Foram derrotados e duramente reprimidos.

Tendo eliminado seus inimigos à esquerda e à direita, Getúlio impôs ao país o Estado Novo. Eleições suspensas, Congresso fechado, imprensa amordaçada, direitos civis atropelados, críticas caladas. Foram anos terríveis. As cadeias encheram-se de presos políticos, enquanto uma formidável máquina de propaganda promovia sem cessar a figura do presidente.

Em 1939, a Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini deflagraram a II Guerra Mundial. Num primeiro momento, conquistaram vitórias militares demolidoras. O quadro inverteu-se, porém, com a invasão da União Soviética e a entrada dos Estados Unidos na guerra. Vargas, que chegara a flertar com o nazi-fascismo, rompeu então com os países do Eixo. Em represália, submarinos alemães torpedearam navios mercantes brasileiros nas nossas costas. Multidões saíram às ruas exigindo que o Brasil declarasse guerra à Alemanha e Vargas acompanhou esse clamor.

A partir daí, o quadro político do Brasil alterou-se progressivamente. Afinal, como seguir reprimindo a luta pela democracia no Brasil quando os soldados brasileiros lutavam nos campos de batalha contra os regimes antidemocráticos? Manifestos, protestos, passeatas tornaram-se frequentes. Jornais deixaram de obedecer às ordens da censura. Intelectuais e líderes políticos passaram a pedir abertamente o fim do Estado Novo.

Assim, em fevereiro de 1945, quando as tropas soviéticas já se aproximavam de Berlim, Getúlio anunciou a convocação de eleições. Em abril, decretou a anistia dos presos políticos. Quando um mês depois, a Alemanha se rendeu, o Brasil estava em ebulição, em plena campanha eleitoral para a Presidência da República e o Congresso.