Bronca Social Funk

O chamado funk carioca, que surge no Rio de Janeiro, tem conexões musicais diretas com o chamado Miami Bass, ritmo de forte batida eletrônica que convida à dança. 

Bronca Social / Funk A Pegada

No final dos anos 1970, os primeiros bailes funk foram realizados na casa de shows Canecão, na zona sul do Rio de Janeiro. A festa era organizada pelo discotecário Ademir Lemos e o locutor de rádio Big Boy. Os “bailes da pesada”, como ficaram conhecidos, chegaram a reunir até 5 mil pessoas, provenientes de todos os bairros cariocas. Mas incomodaram a classe média e os próprios astros da MPB com a ocupação de um de seus templos, o Canecão. Os bailes migraram então para a zona norte, a periferia e os morros, sempre tocando ingênuas versões e melôs inspiradas nos sucessos norte-americanos. No início dos anos 1990, os MC’s – os mestres de cerimônia – ganharam espaço na denúncia de uma realidade marcada pela miséria, a violência e a criminalidade, temas cada vez mais presentes na letras. Os bailes passam a reunir centenas ou mesmo milhares de jovens, em sua maioria negros e pobres da periferia.

Nos anos 1990, os bailes atraíam multidões. Refletindo a violência cotidiana, surgiram os chamados “bailes de corredor”, em que os funkeiros entravam em confronto, divididos em “lado A” e “lado B”, ocorrendo às vezes mortes. A agressividade, logo divulgada pela mídia, levou à criminalização dos bailes. As autoridades cogitaram proibi-los.

O preconceito contra o funk deriva de sua ligação aos mais pobres e aos “guetos sociais”, mas também da sua cultura, costumes e símbolos. A dança é muito sensual e muitas vezes

remete ao ato sexual. A partir do ano 2000, as letras continuam falando do cotidiano das comunidades pobres, mas enfatizam cada vez mais o sexo; as mulheres são depreciadas e designadas como “cachorras”, “potrancas”, “éguas”. São constantes as referências a partes íntimas do corpo humano, em rimas vulgares. A tolerância e às vezes até a exaltação do uso de drogas e de criminosos notáveis também aparece nas letras. Tudo isso incomoda a classe média.

O funk também dita sua moda. Os homens usam jeans, camiseta e cabelos curtos. Frequentemente exibem tatuagens nos corpos malhados. As mulheres usam shorts muito curtos e cavados nas nádegas (parte do corpo muito valorizada nas letras), blusas decotadas, cabelos longos (para serem balançados na dança) e uma profusão de bijuterias.

Bronca Social / Funk O Som

O som do funk se caracteriza pelas batidas repetitivas e sincopadas, pelos vocais dos cantores e pela forte presença dos metais, além da percussão. Dessa mistura, produz-se um som fortemente dançante. Embora de inspiração estrangeira, o funk se nacionaliza no Brasil, especialmente através das letras, que se afastam das melôs e passam a falar do cotidiano das comunidades pobres.  

Quando o preconceito contra o gênero se acirra, a pretexto da violência ocorrida nos bailes, surge o subgênero funk melody, que projeta nomes e bandas como Latino, Copacabana Beat, MC Marcinho, entre outros. Alguns bordões e gritos de guerra criados nos bailes tornavam-se sucesso, como foi o caso de "Uh, tererê" e "Ah, eu tô maluco".  Surge também a corrente "proibidão", que enfatiza temas ligados ao tráfico de drogas. Na virada dos anos 2000, surge outra variante de forte conotação erótica, com letras que chegam a ser vulgares e pornográficas e frequentemente machistas.

Nos anos posteriores o funk acaba aproximando mais sua batida do rap, produzindo o chamado “pancadão”, ritmo que passa a atrair jovens de outras camadas sociais, contribuindo para reduzir o preconceito. O funk então ganha espaço nas rádios, rompe as fronteiras do Rio e até do Brasil, tendo sido sensação no verão europeu de 2005. Um destaque desta fase é a cantora Tati Quebra-Barraco, com letras que se contrapõem ao machismo e à sujeição da mulher-cachorra. Surgem grupos de funk em Angola e outras partes do mundo. Em 2008 o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) apresenta projeto declarando o ritmo como “forma de manifestação cultural popular”.